segunda-feira, 15 de novembro de 2010

A visão "ecológica" do final do século IXX



Destruição das mattas


"Destruir soberbas mattas de terras uberrimas, que vão ser entregues para sempre à cultura, não é grande mal e mesmo não se podera recriminar contra esta pratica se toda a madeira de lei fosse aproveitada.

Mas destruir mattas ou capoeiras só para tirar duas ou tres colheitas, atear fogo em quasi um districto inteiro, para fazer verde para algumas cabeças de gado, queimar immensos campos e mattas pella locomotiva de estrada de ferro mal dirigida, ou arrazar florestas de ingremes morros, de profundas barrocas, de nascentes d'agua ou de beira-rio, ou inutilisar as mattas junto a centro populosos só para aproveital-as como carvão ou lenha, é simplesmente procedimento de bugres ou de vandalos e o governo ou mesmo as Camaras Municipaes deveriam com leis as mais severas pôr um paradeiro a tão insensato, quão imprudente procedimento.

Com a destruição exagerada das florestas o clima do apiz modifica-se completamente: as estações tornam-se irregulares, as chuvas, ora vem cedo, ora tarde, ou são copiosas demais, os rios tornam-se caudalosos e ha fortes inundaçõe ou então seccam quassi completamente, a ponto de não darem agua para fazer trabalhar a mais insignificante machina; os ventos estão sempre emprenhados de forte camada de pó, o calor, torna-se abrasador; tudo isso contribue para o mal estar dos habitantes e tambem para a irregularidade da producção, esterilisando o paiz pouco a pouco. Foi devido a esses motivos que no tempo antigo se deram as grandes emigrações de povos inteiros, pois os habitantes não encontravam mais na sua patria recursos para sustental-os, ainda que não fosse tão densa a sua população. Entretanto, se hoje os paizes os mais adiantados da Europa tem obtido maior producção, não é só isto devido a sua sabia agronomia, mas à sensata conservação que elles tem sabido dar a suas florestas augmentando-as diariamnte e apoiados por sabias leis que são fielmente cumpridas; isto tem tambem contribuido poderosamente para estabelecer um clima igual, havendo completa uniformidade na mudança das estações, augmentando sempre sua producção, até não lhe faltando nem lenha, nem madeira que é obtida por preço inferior ao que pagamos nós, o que não deixa de contribuir muito para o seu bem estar. Estas verdades começam a calar tanto o espirito dos outros povos, que importantes trabalhos têm sido executados ultimamente neste sentido na India e no Japão, sem contar as colonias Inglezas,onde já ha dezenas de annos que muita cousa se faz a esse respeito.

Portanto nós também devemos tratar de não destruir tanto as nossas mattas e fazer novas florestas em terras inuteis à lavoura e que para o futuro serão os grandes interesse pecuniario e verdadeira e solida herança de familia. Lembramos como arvores e florestas de rapido crescimento e de excellente madeira o cedro, o timbó, a cajarana, o pinheiro, o guarantan e muitas outras e as estrangeiras como os ecualiptus, as conifereas, os carvalhos, etc., etc., que em menos de trinta annos poderiam fornecer bem soffrivel taboado.

Para a a cultura dessas arvores ha despezas só nos primeiros 4 a 5 annos, porque depois a sua conservação pouco gastos occasiona; estamos convencidos que cada arvore faz um a dous mil réis de madeira por anno. Accresceria a vantgem destas terras muito augmentarem de valor, porque iriam pouco a pouco recuperando as suas forças productivas."


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Retirado do livro "O Café - Observações Botanicas, producção, consumo"; por F. Semler. Vertido do alemão por um velho fazendeiro. Typographia Salesiana, 1896. São Paulo.

Um comentário:

PRECIOSA disse...

Passei aqui
Sem licença pedir
Me encantei com seu blog
Então resolvi te seguir

Preciosa Maria