domingo, 22 de março de 2009

Refletindo sobre o direito ao aborto

O erro mais comum e observado dentre a maioria daqueles que defendem o aborto é a defesa do direito à propriedade do seu corpo, tornando o feto “parte” do seu corpo.

Um braço é parte de um corpo, portanto, um braço é propriedade deste corpo. Assim, se o proprietário decide descartar seu braço, lhe será permitido (embora possa não ser aceito ou não compreendido seus motivos), mas nenhuma culpa lhe é imputada, já que ele é dono e pode fazer e desfazer daquilo que lhe pertence. O braço, por ser parte do todo, não é e nunca será capaz de permanecer vivo ou manter-se vivo fora do seu corpo. Ele pode permanecer utilizável, desde que adequadamente conservado; para que seus tecidos possam ser reutilizados ou reaproveitados. Mas um braço não tem autonomia e nem nunca conseguirá autonomia de sobrevivência, por mais tempo que permaneça junto do seu corpo de origem antes de ser amputado.

Se o indivíduo, proprietário de seu corpo e sua vida, resolve dar cabo da mesma, é seu direito. É livre para fazer e desfazer daquilo que é seu, é de sua propriedade. Não afetando fisicamente seus pares e semelhantes, o direito lhe é conferido em sua totalidade. As conseqüências deste fato afetarão tão e somente o próprio indivíduo. É claro que, havendo envolvimento emocional outros sofrerão. Mas não é disso que tratamos aqui.

Um feto, ao contrário, não lhe pertence. É independente. É um ser vivo que, embora não tenha autonomia durante certo tempo, terá em breve. Desde o momento da união dos gametas, surgiu um ser que conquista uma crescente autonomia a cada dia que passa, até que se tornará independente daqueles que lhe deram a vida. Se assim o é, não podemos considerá-lo uma mera parte de um todo, um apêndice que pode ser disposto ao sabor dos desejos daquele que se acha seu dono – e que, na verdade, apenas é um hospedeiro para que esse novo ser conquiste sua autonomia. Neste momento, quando é apenas um hóspede do corpo em que foi gerado, não pode ser tratado como um simples pedaço de carne que incomoda e que pode ser dispensado. "Estar hóspede" não lhe confere a obrigação de "ser prorpiedade" de alguém.

Assim dizendo, parece que a frieza e a indiferença habitam nossos raciocínios e pensamentos. Mas o raciocínio tendencioso e parcial da “propriedade” nos empurra para essa ilha, essa idéia de “ser dono” só porque está dentro do seu corpo. É enganoso e capcioso levar as pessoas a pensar desta forma. Há que ser cuidadoso e analisar cada idéia que surge a respeito do assunto, inclusive estar atento aos interesses escusos dessas formas de pensar. “Os filhos vem por meio de vós..., mas não são propriedade vossa”(Kahlil Gibran).