sexta-feira, 10 de junho de 2005

ADOTE UM DEPUTADO


CAMPANHA DA SOLIDARIEDADE
TRAGA PARA SUA CASA UM DEPUTADO
(E EVITE QUE ELE VÁ A BRASÍLIA)



Prezados amigos:

É tempo de solidariedade.

Na crise econômica, moral e - por que não dizer - até futebolística em que se encontra a nação, a hora é de levantarmo-nos de nosso berço esplêndido e juntarmo-nos a nossos irmãos deputados para a valorização dessa injustiçada classe.

Cansei de assistir o sofrimento destes abnegados monges que se privam das riquezas materiais e partem para a clausura de Brasília, este centro espiritual que é uma verdadeira ilha de moral, honestidade e inteligência de nosso País.

Estou com vergonha de ser um reles cidadão. O meu Presidente pede que erga minhas humildes nádegas do sofá da sala de televisão e eu nada faço para salvar da fome e da desesperança as famílias destes heróis nacionais - estes probos, íntegros, exemplares e - por que não dizer – até biltres deputados.

Chega! Ninguém consegue sobreviver dignamente com R$ 12.000,00 mensais! Não podemos deixar um ícone nacional como Sua Excelência o Presidente Severino Cavalcante dilapidar seu patrimônio só para nos servir.

Fazer um deputado residir num barraco de R$ 3.000,00 de auxílio-moradia mensal é humilhante para a nação. Como é que podemos ajudar o Haiti se temos problemas internos, como a precária situação da residência do Senador Antônio Carlos Magalhães e a evidente subnutrição de Roberto Jefferson?

Homens do calibre moral do Senador Sarney, que se sacrifica em viagens entre o Maranhão, Rio, São Paulo e Brasília, quando todos sabemos que sua residência é Roraima. Homens como este reto, incorruptível, inteligente e - por que não dizer – até bigodudo ex-presidente, que se dá totalmente ao País, quando poderia ser um milionário escritor de best-sellers como Marimbondos de Fogo. Homens como os deputados federais, que são obrigados a sobreviver com apenas 4 passagens aéreas mensais de ida e volta de Brasília para qualquer lugar da nação. Onde está, amigos, o direito de ir e vir?

Vou além: pergunto, indignado: onde está o 15º salário destes operários-padrão? Como uma nação - que se diz cristã - abandona seus deputados e os obriga a sobreviver com apenas 14 salários anuais?

E não paro por aí. Se é para cortar da própria carne, se é para expor as nossas mazelas, vamos a fundo neste problema: onde surgiu a crueldade de exigir comprovação para as despesas permitidas de R$ 7.000,00 mensais por gabinete? Humilhação tem limite!

Os deputados se encolhem em sua conhecida humildade e impotência. Devemos, como verdadeiros viagras do bastão da dignidade humana, servir como a voz destes roucos, afônicos, atônitos e – por que não dizer – até acéfalos deputados. Somente uma classe indefesa para aceitar R$ 3.800,00 a título de verbas para assessores.

Indignação! É o que eu sinto quando vejo os irmãos deputados dedicar suas vidas ao trabalho. Não deve ser fácil cumprir exaustivas jornadas de quatro horas diárias de extenuante e honesta labuta, todos os três dias úteis de cada semana. Com a escassez de dinheiro, não conseguem gozar os 90 dias de férias anuais, mais os 30 dias de descanso remunerado. Definitivamente, a CLT foi rasgada e a Carta Magna, atirada na lama.

Você, micro empresário, pequeno comerciante, prestador de serviços, deve se imaginar na pele dos deputados. Tente fazer com que seu escritório sobreviva com uma ajuda governamental de apenas R$ 35.000,00 mensais, que é o que aqueles monumentos à moralidade recebem a título de verba de gabinete.

E a falta de espaço? Onde estão as organizações internacionais de defesa dos Direitos Humanos que não enxergam o que se passa no local de trabalho daqueles Padres Cíceros do serviço público? É inumano obrigar os 20 servidores de cada gabinete a não comparecer a seu local de trabalho, por impossibilidade de acomodá-los nas precárias instalações dos parlamentares.

Não quero parecer dramático. Quero apenas chamar sua atenção. Chamar sua atenção para este verdadeiro bolsão de pobreza, mendicância, escravidão e – por que não dizer - até de vilania que é o congresso brasileiro. Escondendo o Sol com a peneira, o malvado povo brasileiro ilude esses garbosos, lustrosos, honrosos e – por que não dizer – até sebosos cidadãos, oferecendo a eles engraxates, barbeiros, cabeleireiros grátis, além de R$ 25.400,00 para trabalhar durante o breve recesso a que fazem jus e ganhar apenas em dobro se convocados neste período.

Não é pra lamentar a vida de um parlamentar????

Reaja! Entregue uma cópia deste textículo a cada parlamentar que você conhece. Ou coloque no saquinho de correspondência da casa dele. Vamos encher seu saco com estes textículos. Mostre sua solidariedade. Pegaremos em armas, se necessário, para este sacrifício acabar. Salvemos nossos irmãos políticos da extinção, da fome, da desnutrição e – por que não dizer – até da demência!


De um eleitor satisfeito.

(Do mesmo autor de “Feliz Natal Vivo”)