domingo, 25 de dezembro de 2011

Salmo de Natal

Neste período tão significativo para uma boa parte da Terra muitos os que se jubilam, muitos os que sofrem, poucos os que compreendem, muitos os que exageram, infinitamente poucos os que põe em prática o sentido original da data.


Este período em si tem importância relativa, o tempo é relativo, mas deveria estar nos corações e mentes das pessoas, ao menos para lembra-las que é preciso doar sem esperar nada em troca, que é preciso amar de maneira integral, sem preconceitos e sem ameaças.


Recebi recentemente (mais) uma benção, e essa me fez finalmente entender, em toda a sua magnitude, a linda família que me foi permitido fazer parte. Cada sinal, cada reação, cada expressão só me enche de orgulho e gratidão. Dentro de minha imperfeição consigo finalmente enxergar que sou um ser que já recebeu muito, e quero compartilhar, o que for possível, quando e onde, sempre que eu puder.


Obrigado família, vocês são tudo para mim, e principalmente dividimos a mesma insanidade (essa parte só nós compreendemos!)

sábado, 5 de novembro de 2011

Drops


...A cada dia que passa entendo menos, aprendo mais, escuto menos, sofro mais, ando menos, amo mais e de tempos em tempos, esqueço tudo o que disse.

domingo, 3 de julho de 2011

In two years, up to 50 mobile virtual operators must offer services to customers in Brazil


Over the next two years, the Brazilian market will have 40 to 50 virtual mobile operators (MVNO, the English acronym of mobile virtual network operator) in activity. It is a betting of an industry expert, Liudvikas Andriulis, Marketing Director of Effortel, a Belgian company, responsible for successful MVNO in Belgium, Poland, Italy and Taiwan. Liudvikas spoke about the arrival of companies in Brazil at the InTouch Business Forum 2011, Congress held last month in Miami (USA). According to him, as it may seem an exaggeration, the number is compatible with the size of the Brazilian market. "Brazil has great potential because of the diversity observed in the country. There are many foreigners and too much money floating around there," he said.

This dynamism observed by Andriulis is just that the virtual mobile operators are looking for. They operate in specific niches, leveraging segments unattractive for large companies. The business model is based on the rent of the existing infrastructure of other companies such as antennas, radios, towers, fiber cables, and equipment often needed for the communication of users. The approval of the National Telecommunications Agency (Anatel), at the end of last year, gave the green light to the entry of MVNOs in Brazil, known abroad. As a result, big brands such as banks and retail companies would be allowed to sell their own devices and plans directly to customers. However, rather than intensify the competition for the best rate, these brands want to use the phone as a new tool of user loyalty.

Liudvikas cited examples of how the model is being used overseas by Carrefour. With the chip sold in its stores, the cost of adding a customer is almost zero. At the time of purchase, consumers can still make claims of minutes depending on the amount of purchase. "People are taking a few more things to earn more minutes," he said.

Numbers

Today, there are approximately 700 mobile operators active in the virtual world, amounting to 2% of the total number of mobile phone users. Commanded by British billionaire Richard Branson, Virgin Group announced that it will have an MVNO in Brazil. The country is the number one focus of the company's operations in Latin America, which will be built in partnership with the Tribe and Mobile consume investment of US$ 300 million over the next five years.

According to the president of the Mobile Tribe, Phil Wallace, the operations in Brazil should be established only in 2012. Previously, the company must obtain licenses in the FCC and a close partnership that will provide the infrastructure services. By the rules of the segment, can only operate in the country companies that enter into contracts with companies already in the market, such as Vivo, TIM, Claro and Oi

Source: O Estado de Minas

Translation: L. Sackiewicz

quinta-feira, 10 de março de 2011




Rear view mirror of a ride in a Navy F-18...flight, my passion..Let´s Rock!


terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Carlos Ferraz

Amigos (as)

Há mais ou menos 20 anos conheci uma pessoa chamada Carlos Ferraz. Eu publicitário, ele um profissional de marketing que trabalhava na Refinações de Milho Brasil.

O Carlos era uma pessoa suave e fechada, quase silencioso. Em todas as reuniões que partircipamos, percebi que ele tinha um comportamento ponderado, sendo que a sua maior qualidade era saber ouvir.

Participamos, também, de várias convenções de vendas realizadas pela empresa, na qual eu era um dos organizadores. Sempre que podia, na horas livres, lá ia ele com a sua inseparável máquina fotográfica pelos lugares dos mais insólitos, vendo e fotografando o que uma pessoa normalmente não vê.

Depois de um determinado tempo, ele acabou saindo da empresa e abriu uma consultoria. Não me lembro exatamente por que motivo, marcamos uma reunião na sua nova empresa. Sei que tomamos um café, que ele falou detalhadamente das atividades da sua nova empresa e que jogamos conversa fora.

Em determinado momento, ele abriu uma gaveta, pegou uma pasta amarela e, olhando bem fundo nos meus olhos, disse: É um presente para você! Peguei a pasta, abri e no seu interior encontrei muitas folhas soltas. Em seguida, olhei para ele e perguntei sobre o seu conteúdo. Ele esbouçou um leve sorriso e falou que tudo o que estava escrito naquela pasta eram textos que ele vinha recebendo, há vários anos, do seu Guia Espiritual...

Bom, eu sou um espiritualista, mas nunca tínhamos conversado sobre isso. Agradeci e fiquei de ler.

A verdade é que levei a pasta para casa e a guardei na minha biblioteca. Passados alguns anos, fiquei sabendo que ele havia morrido, mais precisamente, foi assassinado no Parque Ibirapuera.

Na última mudança que fiz de residência, acabei achando a pasta. Separei-a e algum tempo depois, em um fim de semana qualquer, comecei a ler o seu conteúdo.

As folhas, já amareladas pelo tempo, foram aflorando na retina da minha alma e, surpreso, fiquei envolvido pela profundidade contida em cada uma das centenas de frases-pensamentos materializadas, através dele, pelo seu Guia Espiritual. Ao ler-mos, podemos observar que era como se o seu Guia estivesse dando conselhos ao Carlos diante das suas dúvidas existênciais. Dúvidas inerentes às pessoas que buscam serem melhores, diante de um mundo que agoniza no materialismo árido e que afasta a minoria pensante, da grande maioria que caminha rumo ao abismo de si mesmas.

Finda a leitura, fiquei pensando o motivo de ter recebido tal presente, quando, na realidade, a nossa relação de amizade não justificava tal previlégio. Obviamente a resposta só vou conseguir quando nos encontramos novamente no outro plano de existência.

De qualquer forma, pude perceber que o mínimo que poderia fazer era partilhar o seu conteúdo com as pessoas que, como eu, gostam de viajar para dentro de si mesmas. Assim, resolvi prestar uma homenagem ao amigo Carlos Ferraz. Transcrevi todo o texto que me foi ofertado e, desta forma, estou disponibilizando a vocês.

Espero que vocês gostem, assim como eu gostei.

Se gostarem, podem passar adiante, visto que o seu conteúdo, acredito, é universal e atemporal. Peço apenas que não mudem uma vírgula do seu conteúdo, pois, como sabemos, uma vírgula pode modificar o mundo.

Deixo, finalmente, uma última observação.

Falei com algumas pessoas que trabalharam com ele, naquela oportunidade, no sentido de saber sobre os seus familiares, visto que eu queria pegar autorização dos mesmos para disponibilizar o seu conteúdo. Ninguém soube me dizer nada sobre os seus familiares. Assim, por acreditar que o Carlos colocou o seu texto nas minhas mãos para que os mesmos, no devido tempo, fossem disponibilizados às pessoas afinizadas com o pensamento do seu Guia Espiritual, me auto-autorizei a divulgá-los.

Rubens Costa
30/07/2007















CARLOS FERRAZ

A bondade é uma questão de fé. Não é um exercício consciente, mas a consciência de que ser é servir, assim como uma célula troca energia e nutrientes com a célula vizinha pela manutenção da vida de um organismo maior que cada uma delas ou que sua união, mas que depende fundalmentalmente da harmonia e colaboração entre as pequenas partes.

Ser livre é saber exercer o direito de sonhar com um mundo melhor, mas com a razão buscar traduzir este sonho em realidade. Somar é agrupar os contatos entre as mentes que se sintonizam e multiplicar as energias num ciclo crescente e radiante.

Tu te tornas maior quando te apegas com sinceridade e respeito a uma causa comum à tua coletividade.

Os trilhos são imóveis, mas te transportam de um ponto a outro, com tua mente pode ter conduzir a todos os pontos do Universo. O silêncio é tua estrada e a concentração teu veículo. Sem aquietares tua mente só levnatarás poeira, ficando exausto e confuso, sem saíres do lugar.

Se uma planta definha, não procures a raiz do mal em suas partes. Não a encontrarás nas folhas, flores, no caule ou nas raízes. Procura na terra pobre, na água escassa, no calor excessivo ou na luz deficiente a razão da fraqueza.
Se teu corpo padece, de nada adianta te examinares à exaustão, pois o problema não está em um órgão, nem mesmo na interação entre eles. De fora para dentro, da mesma forma que a radiação de um corpo celeste pode arruinar a vida em outro a milhares de anos-luz de distância, as deficiências em teu corpo energético impactam teu mundo denso. Harmoniza tuas vibrações, nutre-as com fé e amor e teus males desaparecerão. Para isso, é preciso que te mantenhas consciente e alerta todo o tempo, como o jardineiro dedidcado zela em vigília pela rosa ameaçada.

És o que fizeste de ti desde tempos imemoriais. Se teus traços te parecem alheios a ti, é porque não te lembras de tê-los projetado, assim como estás agora a desenhar teus futuros caminhos. Acaso crês ser de valia o conhecimento da origem das desditas? Elas não te resolverão em um grão de areia, se o souberes. Desprezas a força do sorriso, ferramenta mágica a teu alcance. Anula a violência com o sorriso. Tens a força das estrelas a teus pés – experimenta!

Se a cada curva do barco te inquietas e te inclinas, procurando descobrir o caminho, levarás uma eternidade para chegares ao teu destino. Confia na correnteza, certifica-te do bom funcionamento do leme, aplica a força equilibrada aos remos e deleita-se com a paisagem. Tua viagem será muito mais prazeirosa, segura e rápida.

Se tiveres que optar entre diversas alternativas, visualiza aquela a que podes te entregar de coração, sem constrangimentos.

Não caias na tentação do brilho, do poder, da matéria ou do julgamento alheio. Faze o que te parece mais bem ajustado ao teu coração; assim, nunca irás te arrepender.

Podes passar teus dias enchendo um balaio com seixos para o esvaziares a seguir. Antes de iniciares uma tarefa, examina com rigor o seu real proveito. De nada adianta te ocupares febrilmente com mil afazeres que nada mais são que um castelo de areia. O que não te traz crescimento e evolução não é para ti. Não percas o tempo que te foi dado para construíres tua casa com brincadeiras na areia. Com ele farás a argamassa que sustentará tuas paredes – ou o castelo que o mar irá dissolver.

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Indagas sobre a concentração.

Imagina que tens a exata localização de um tesouro enterrado. O que farias para obtê-lo? Evidentemente, começarias a cavar em volta da marcação, até que o objeto buscado se mostrasse a teus olhos. Com cuidado, removerias pouco a pouco, evitando que caíssse novamente na área descoberta, até isolar completamente o teu tesouro.

A concentração consiste exatamente no mesmo processo: elimina cuidadosa e persistentemente todos os pensamentos dispersivos que venham a te desviar do teu objetivo. Como o engenheiro coloca anteparos para evitar o soterramento das áreas desbastadas, tua força de vontade deve bloquear os ciclos viciosos.

Ao te avistares totalmente com o objeto da tua concentração, terá início a meditação, que tem por objetivo a fusão com o objetivo vivenciado. Assim, percebes que, ao contrário do que se imagina, concentrar-se não é dirigir-se para o objeto, sofregamente, e sim afastar o que encobre este objeto. Se ao desnudares todo o teu tesouro ele não corresponder aos teus anseios, a razão estará em ti. O escultor não produz na pedra este nariz ou aquele braço: ele retira as porções de pedra que escondem o nariz ou o braço. Se os traços não correspondem à sua idealização, é porque o cinzel ou o martelo desbastaram a porção errada da massa de pedra.

Se chafurdas no pântano e cada gesto te afunda perigosamente na areia movediça, sabes que a única forma de saíres ileso é te agarrares a um galho que te sustente com segurança, para te içares à margem. Se não testares definitivamente a rigidez do galho e ficares a apalpar e largar cada tronco que encontrares, logo irás ao fundo.

Quando surgir uma fonte que te pareça útil em tua caminhada, tenta seguir os seus preceitos. Procura exercitar os seus ensinamentos, praticar as suas regras e vê se te traz algum proveito. Dificilmente te será totalmente inútil. Mas se ficares a acumular leituras e propostas sem as vivenciares, ficarás no lodo da dúvida.

Quando te interessar determinado assunto, concentra-te, isola teu ponto de interesse e medita sobre ele até que tu e teu objeto de reflexão se unifiquem – a luz virá a ti. Seleciona, porém, se queres saber da porta ou do caminho, do caminho ou do destino: teu esclarecimento dependerá da tua definição. Uma vez esclarecido, incorpora este ensinamento ao teu dia-a-dia – só assim terás trilhado a trajetória completa do processo.

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Atira uma pedra na superfície espelhada do lago. O que vês? Círculos concêntricos se propagando, com diâmetros cada vez maiores.
Teus problemas são como esta pedra. Resolva-os e não permitas que se propaguem para outras áreas da tua vida, como os círculos se propagam na água. Eliminando o problema, os seus efeitos desaparecerão, e tudo o que hoje parece afetado deixará de sê-lo.

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O que irrita não são as situações como se apresentam, e sim a expectativa que tens em relação a elas.
O que te aborrece não é acontecerem de forma diversa à esperada, mas a idéia de que irão acontecer de forma indesejada, o que pode ocorrer, mas é o suficiente para causar irritação. Analisa bem tuas expectativas e, se puderes, elimina-as.

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As águas turbulentas da corredeira formam o lago imenso, profundo e tranqüilo. Absorve do momento conturbado da tua vida as lições que te são trazidas. Elas contribuirão para a tua paz futura.

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Repara na pena da ave adulta e na pluma do filhote recém-nascido: aparentemente não parecem pertencer a seres da mesma espécie. O que as torna diferentes é o que denominas “tempo”. Ora, o tempo é ilusório; assim, estas penas são iguais e diferentes simultaneamente.
Não te guies pelas aparências, pois seguramente irão te iludir.

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O meteorito risca o céu estrelado e mergulha no mar, apagando-se. Pela distância nada ouves, sequer vês o vapor d’água que sobe.
É possível perderes o vício ligado à matéria e apagares teus desejos, como a água extinguiu o calor do astro. Procura em ti a fé, que é muito mais forte que a matéria.

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Aparentemente todos os grãos são iguais. Se os examinares melhor, porém, verás grandes diferenças. O mesmo ocorre com as situações: pensas que já passaste por aquela experiência, mas o que acontece tem um momento único, uma combinação de fatores que jamais se repete. Procura vivenciar o instante sem preconceitos, sem pré-julgamentos. Absorve o ensinamento que traz, pois tudo tem uma razão de ser, uma contribuição ao teu desenvolvimento.

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O topo da árvore cresce em direção ao sol. As raízes aprofundam-se na terra, buscando sua alimentação. Uma criança nasce, outro ser parte para outra etapa em seu desenvolvimento. Incoerências? Não. Paradoxos? Não. Na realidade, nenhuma diferença. Corta o ponteiro da árvores e ela não sobreviverá de suas raízes. O inverso cabe igualmente. Cessa o nascimento e a morte e terás o caos.

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Quando começarás a ver o todo? Tuas incessantes divisões em dia e noite, frio e calor, bem e mal são artifícios tolos e perigosos, se perdes a noção de conjunto: não entendes sequer causa e efeito. Abre os olhos da mente e cessa tuas mazelas.

Não julgues este ou aquele ato que cometeste. A boa ação em si não existe, nem o pecado de que te recriminas. És por inteiro, não te vendes por partes como os retalhos de animais nas feiras.

O bem de ontem não te dignifica, como o erro de amanhã não te condena. O todo é o que importa, e este não vês porque fitas o milimétrico, aquilo que enquadras em tuas pretensas molduras. Acaso miras a paisagem em pequenos blocos, como peças isoladas de um quebra-cabeças? E se o fizesses, que tal te pareceria? Insossa, desconexa, e não te comoveria, como não te tocam a nota isolada da canção ou a palavra solta do poema.

És maior que a tua forjada razão te mostra. Além dos defeitos que te atribuis, tens outros tantos – e o mesmo serve para tuas qualidades. Andares a te policiar nada fará por ti, pois o bem deve fluir de teu coração, e não de uma coreografia que a teus valores convém. Se ensaias o ato generoso, premeditado e feito moeda com que pensas comprar o reconhecimento, não te moves um passo sequer. Tens, contudo, em teu coração, um fiel preciso daquilo que te acrescenta e resgata. O erro – se assim se pode chamá-lo – consiste em perderes tempo quando sabes por onde ir. Teu mapa não concebe enganos, embora nem sempre os caminhos sejam tranqüilos.

Podes ficar às voltas com julgamentos sobre este ou aquele passo, esta ou aquela curva – e perdes a noção do destino. Escolheste uma volta mais longa? Ela te trará de volta à trilha, de qualquer modo – mais cansado, é verdade.

Se queres apreciar a paisagem enquanto caminhas, ótimo. Tua jornada te será mais leve; mas não percas de vista teu objetivo, que é a direção para teu destino. Tudo o que te cerca pode te auxiliar e deleitar, mas saibas que são paisagens, que deixarás para trás, pois teu camino só a ti pertence, como tu a ele. Não lamentes, pois, o regato que já cruzaste, a pedra que te serviu de repouso, ou o trinado alegre do pássaro que te embalou por instantes: eles sempre hão de passar, e tu seguirás em frente.

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Escolha e rejeição são faces do mesmo ato.

Se optas por um determinado bem, negas todos os demais. Se colhes uma maçã do pé, deveriam as demais sentir-se preteridas? Se o caçador atinge este animal, aquele outro poderia magoar-se por não ter sido o alvo escolhido?

O que é a escolha senão o abandono de um número maior de alternativas? Pegar é abrir mão do que não se escolhe. Se pegas um, e em função de tua escolhas sobram centenas, onde está a aquisição, a riqueza? Ficaste com uma maçã, a árvore regozija-se com as dezenas que deixaste. E ambos são ricos, cada qual a seu modo.

Quando recebes algo do mundo, podes sentir-se orgulhoso pelo brinde da escolha, ou amargurado pela sensação de perda: tudo depende de como avalias o que te vem. Se sentes que o mundo te toma algo, é porque não sabes ver o quanto te veio em troca de tua doação.

Se a flor solicitada à roseira enfeitar o colo da linda donzela ou alegrar a sala em que se reúne a família, deveria a planta sentir-se despojada? Para que então a exibição de sua beleza? Tolo é aquele que entesoura, enterra e vigia suas pedras, suas jóias. Prazer maior dariam se adornassem os cabelos e vestidos da dama.

Ser, ter, entregar, usufruir sem posse, doar sem recompensa, amar o todo sem restrições, eis tua lição de hoje.

Muito cuidado ao rotulares o que o mundo te oferece; maior cautela ainda para não te terdes em um aspecto que incomoda e tolda teus olhos da visão abrangente e mais justa. Se te aproximas demais do detalhe, perdes o sentido do todo. Está alerta para a efemeridade das coisas, para a não-permanência. Lembra-te que o que te vem não é para tua posse e usufruto, mas para teu esclarecimento e ensinamento.

Não guardes a água da chuva que cai benfazeja ao fim da tarde de verão. Deixa que te refresque e traga o perfume da terra agradecida; vê o reconhecimento das plantas que se põem eretas e mais verdes após o esperado refrigério.

Não te ocupes em aprofundar o julgamento de um lado da questão; sabes que o ver as coisas é ilusório e maleável como a fumaça que dança no ar. Não observes, absorve. Não esperes, usufrui. Nada necessitas além de teu corpo são e de tuas ligações límpidas com as esferas elevadas.

Tens o templo e o tesouro em ti. Respeita o primeiro e reparte o último. De tua fonte jamais deixarão de fluir a sabedoria e a serenidade.

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Tua mão força na terra a semente, que depois cobres, regas e vigias. Afastas os animais nocivos, as ervas daninhas, todo o que ameace tua futura colheita. Zelas pela pequenina planta como que por uma criança indefesa, protegendo-a dos caprichos na Natureza, da seca, das chuvas impiedosas. Quanto enfim te cabe o fruto, depois de muito tempo, sentes que afinal és também responsável pela sua produção. É o teu fruto, resultado do teu trabalho, justificas.

Nada fizeste, porém, que servir aos desígnios da Natureza, que se expressou pelo milagre da germinação já oculto na semente. Em seu interior, já trazia o segredo do caule, o formato da folha e o perfume da flor. O fruto que te serviu de troféu já estava concebido de início. Quiseras tu modificá-lo, suprimí-lo, te-lo-ías conseguido? Zelaste para que o desejo da Natureza se materializasse, foste cúmplice em sua realização: parte importante, mas apenas acessória.

A criança que te cabe é a semente que produzirá o fruto de amanhã, já concebido em seu destino, e farás o possível para que cresça livre de vermes e parasitas. Se te excedes nos cuidados e afastas todos os insetos, porém, como garantirás a perenidade das flores que trazem no pólen a propagação da espécie?

Não tapes o sol com o teu corpo na aflição de observares o crescimento da pequena planta: estarás privando-a de um elemento vital. Está presente quanto te fizeres necessário; está atento ao perigo, mas livra os arredores para que o desabrochar se faça pleno e tranqüilo. Para seu desenvolvimento a flor não exige de seu jardineiro a presença permanente e um excesso de atenção, pois sabe do equilíbrio dos desígnios maiores.

Desperta a criança para a palavra de Deus que ela carrega em si, e deixa que a sintonia das energias a equilibre e conduza. És o cajado, não o caminho; és a sombra, não a luz.

Teu sorriso instruirá mais que tuas palavras, e teus gestos ainda mais. Age sempre do lado da Verdade, pois a uma alma pura não poderás enganar.

Tu não moldas, aparas arestas. Não tocas o instrumento, apenas afina as cordas – e nisso que te cabe, faze-o com o coração.

De ti brotarão as flores que irão alegrar o caminho que Ele escolheu.

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A mão estendida tanto pode significar doação como cobrança. Este não é um ato em dois sentidos. O verdadeiro “doador” é como um interventor: age simplesmente de acordo com o que deve ser feito. É uma ponte que liga dois momentos.

A ponte não se frusta por não estar nesta ou naquela margem. Se assim ocorresse, ela perderia a sua finalidade. Ser o elo entre o problema e a solução, o carente e a fome, eis o destino e a razão de ser da ponte.

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Como a gaivota utiliza as correntes de ar para voar cada vez mais alto, usa a força que há em teu coração. Ela te impulsionará na direção certa, no momento oportuno. Não desperdices um só instante, pois como o vento não retorna, a energia emitida se perderá em vão. Abre os olhos à Verdade Maior e encontrarás o caminho que leva à paz e à conquista do que te é tão caro.

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Vê a vida como um sopro, uma brisa efêmera que agita as folhas sem prender-se a elas, e se extingue tão sem explicação como surgiu. Como ela, que a tua existência possa eventualmente fazer vibras as demais, sem jamais tolhê-lhas ou dirigí-las.

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O líquido quente aquece o recipiente que o contém. Não há sentido em querer esfriá-lo, enquanto o seu conteúdo permanecer aquecido. A sua personalidade é o “recipiente”.

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Ama tua vida. Ama teu trabalho. É através do amor que atingimos a realização, não através do medo. Tuas forças vão até o limite da tua fé. Não esmoreças, não baixes a cabeça, pois te tornas presa fácil. O risco é inerente ao viver.

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Através da janela só se vê uma fração da casa. Deverias crer que ela se resume nessa visão, por ser tudo o que vês? Só enxergas o que te obceca, quando com menos esforço poderias virar a cabeça e vislumbrar outras paisagens.

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Quereres acelerar o desenvolvimento espiritual é tão insensato como pretenderes apressar a maturação do fruto verde ainda no pé. Tudo a seu tempo.

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Vê o barco de pesca, com a rede lançada às águas. Se as suas malhas forem muito fechadas, encher-se-á de água como um balão, retendo a embarcação. Se as tens muito abertas, os peixes que nela caem conseguem sair com facilidade.

É preciso discernimento para avaliares as informações. Não sejas excessivamente receptivo, acumulando tudo o que vem ao teu conhecimento: vê o que ocorre com o barco quando a rede retém tudo o que nela cai. Por outro lado, não abras mão de toda a informação, não sejas muito cético. Confia na tua intuição e saberás discernir entre o válido e o descartável.

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Pede auxílio às forças dévicas quando quiseres ajudar o próximo de forma desinteressada e sem desejo de recompensa, reconhecimento ou gratidão. O servir é o objetivo de todas as manifestações divinas, que detona esta reação em cadeia de cada forma de energia, da mais sutil à mais densa.

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Para que apregoares teus feitos com alarde? Repara nas flores: são exercício da raiz e das folhas, a coroação dos seus esforços. É possível negar a sua perfeição? Vê as montanhas, o vale, o lago calmo: nada falam, e nada é mais eloquente que a sua beleza.

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Aprecia a música enquanto é executada. Tentar revivê-la na memória trará uma pálida referência de sua execução.

O pleno domínio de tuas forças só será conseguido quando puderes separar a realidade de idealizações. Tua personalidade, aliada à imaginação, arma perigosa armadilhas sob teus passos.

Tentar captar o momento em sua inteireza, sem fantasiá-lo com seus temores, suas expectativas, suas emoções.

Dá tua mão ao que te pede auxílio e esquecerás teus senões. Abre teus braços ao sol que nasce: se lhe deres as costas, perderás a beleza desse instante e só enxergarás a escuridão.

A lua, que te parece uma pequena esfera suspensa vista da Terra, é um corpo de enormes proporções à pequena distância.

Pensa no teu caminho, em quanto já percorreste nestes incontáveis tempos desde a tua origem. Medita sobre os problemas que já enfrentaste, nas dores que te moldaram e, ainda que não os tenha claros, sabes da sua contribuição para seres o que és. Como te parecem tuas mazelas agora, à luz desta longa jornada? Não menosprezes sua influência, não exaltes seu peso.

Um castelo de areia, por maior que seja, não resiste ao solapar das ondas; nem mesmo as rochas conseguem impedir que, com persistência e tenacidade, os vagalhões as consumam. Tens a força das ondas em teu ser. O vento que as impele é a tua força de vontade; se for desordenado e soprar em várias direções, uma lufada anulará a outra. Olha para trás, vê tua jornada e te respeita.

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O tempo destrói correntes e pavimenta os caminhos do esquecimento. Deves tomá-lo como uma dádiva que te foi ofertada para te tornares um ser mais centrado. Teus dias são sementes que podes transformar em frutos para te alimentares nos dias sem provisão. Pode plantá-las como te aprouver; os resultados virão na proporção de tua dedicação e acerto. Deves cuidar desde o solo em que as depositas, do abrigo do vento, da luz e umidade controladas, da prevenção contra as pragas e predações. Só assim terás na colheita a retribuição da terra à tua atenção.

Se atiras teus dias ao léo sem te preocupares com as raízes dos teus atos, terás um amontoado de coisas desconexas e improdutivas. Cada instante é único e deve ser utilizado com a reverência e o cuidado com que o beduíno sorve a água rara do cantil em sua travessia no deserto.

Há tempo para o riso e para a dança, e também para o trabalho e a meditação. Sem uma dosagem adequada, terás a destemperança ou a tensão excessiva. É preciso um dia de chuva para que o prazer do calor se faça mais notado. O movimento de lazer é ansiado porque depende das horas de labuta e concentração.

Se postergas irrefletidamente a realização de tua tarefa, talvez percas o momento ideal para a sua execução. Acaso crês poderes adiar para o verão o plantio de sementes concebidas para a primavera? Terás uma colheita medíocre, se tanto.

Assim como no coração da semente reside a sabedoria de brotar no momento certo, crescer desta e não daquela forma, gerar flores e frutos na seqüência correta, tens no teu coração a noção exata dos tempos.

Nos desígnios de Deus não há divisão ou diferença entre a evolução do tempo e dos acontecimentos: são a mesma dimensão. Um e outros passam interligados da mesma forma. Podes referir-se a este dia ou aquele ato, a este fato ou aquele – significarás a mesma coisa. A divisão artificial do tempo criada pelo homem procura apreender a seqüência da evolução dos fatos. Não falas desde dia ou hora em que te ocorreu dado evento. Simplesmente, a partir do fato ocorrido, emprestas o artifícios de localizá-lo naquele dia e não em outro, apenas para te facilitar o registro. O relógio de Deus não tem horas ou ponteiros e não marca ciclos que se repetem. É um movimento contínuo e infinito onde se registram os efeitos, não os minutos.

Faze do teu dia uma seqüência não das horas, mas de realizações. Vive não apenas determinados anos, mas conquistas e vitórias. Assume a consciência de tua eternidade e tuas horas significarão apenas a convenção da conveniência. Quanto quiseres saber do tempo, consulta o Universo e faze do teu diário a lapidação incessante dos degraus que te levam a Ele, e vive Nele o instante eterno do reconhecimento da centelha divina.

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O vento do deserto apaga o rastro da caravana, mas nem por isso ela deixa de seguir seu caminho e chegar ao seu destino.

Não olhes para trás. Os caminhos que percorreste fazem parte do teu passado. Olha para frente, há muito que caminhar.

O sol se põe no horizonte para que a noite traga paz, descanso e revitalização aos seres. Se em tuas horas houver noite, entende esse período como um descanso, uma pausa para a retomada de tua luta com vigor redobrado. Aproveita o momento de silêncio para reflexão e preparação para uma nova jornada. Quando o sol novamente se levantar em teu horizonte, irá então encontrar-se bem disposto e ansioso por um novo dia de trabalho. Não és mais aquele que se deitou ontem à noite: és a flor que desabrocha com a luz que renasce e perfuma os arredores. O teu coração, agora descansado e refeito, vibrará de modo claro para que percebas o que melhor te convém.

Guarda o silêncio, o repouso, a calmaria dos ventos. Como a montanha que te obriga ao desvio do caminho, este momento te põe ao lado da estrada, para que recuperes o fôlego. Agradece as oportunidades que te são colocadas à frente, para que observes teu comportamento e tua evolução: são as toras de madeira com que construirás tua jangada para te lançares ao mar em busca dos teus tesouros. O tronco que te impede a passagem pode ser a linguagem do barco, da ponte ou do cajado. Irás somente vê-lo como um estorvo em tua trilha?

Quando retomares o passo, deixa para trás a bagagem inútil que apenas te cansa. Despe o que não te acrescenta, depões a carga excessiva. Um sorriso é a vestimenta suficiente. A luz te alimentará, o amor mitigará tua sede. A solidariedade pavimentará tua estrada e Ele não te abandonará.

Não olhes para trás, aquele que foste não és mais. És um novo ser em um novo raiar do dia. Goza na plenitude a alegria deste renascer, com o coração puro e renovado. Tens o dia que amanhece para cultivares como a flor em botão. Cuida para que ele te traga a perfeição e a fragrância da rosa em resposta aos teus tratos. Acima de tudo, faze do exercício do amor a cantilena a deleitar teus ouvidos, a preencher teu coração.

Quando a noite chegar novamente, terás avançado tanto que abençoarás o novo período de repouso.

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As árvores não dispõem seus galhos de uma determinada maneira para que os pássaros neles pousem para descansar, alimentar-se ou fazer seus ninhos. No entanto, as aves procuram aqueles galhos e não outros, e lá constroem seus abrigos. Deveria a árvore orgulhar-se por ter sido a escolhida? E aquele galho que suporta o ninho julgar-se melhor que os outros? O exercício do galho é produzir folhas e flores e sustentar os frutos. Os ninhos e pássaros não são seu adorno, são passageiros. Deveria o pássaro sentir-se grato ao galho que recebe o seu ninho? Estaria obrigado a limpá-lo dos insetos e parasitas que nele se alojam, e decidir não migrar no inverno para louvá-lo com seu canto?

A troca é natural como a brisa, e como tal livre de ônus. A mão que te busca não é a mão que te aprisiona. O dar não implica em ritual. Assim como o vento não anuncia a sua chegada, deve o bem ser feito desinteressadamente, com naturalidade.

Os galhos não se descuidam de suas flores e frutos para acolher os pássaros – nem seria justificável que preterissem essa função para dedicarem-se ao suporte de ninhos.

O exercício do Bem como penitência ou fuga é como a pérola cultivada, semelhante à original apenas em seu aspecto externo, mas de menor valor.

Vale o Bem praticado que veio de ti. O arquiteto pode orgulhar-se de ter projetado a pirâmide, mas não poderá gabar-se de tê-la construído. Não basta conceber o Bem: é preciso exercê-lo individualmente, integralmente.

Olha para a frente. Só atinge a outra margem aquele que se lança às águas. Não hesites se a tua permanência não pode conter o curso dos acontecimentos.

O médico não é responsável pela doença do seu paciente, nem de sua evolução caso não seja seguido o tratamento prescrito. É, sem dúvida, responsável pelo diagnóstico e pelo conselho para a cura. Não lhe cabe julgar a doença, e sim tentar curá-la. Pior que temer as possíveis conseqüências adversas de um tratamento é nada fazer. Duvidar dos sintomas pode ser precaução: ignorá-los é falha inadmissível, passível de punição.
O marujo que vê um homem ao mar não espera pelo pedido de socorro para lançar-lhe a corda. Cabe ao teu discernimento distinguir o sino que anuncia as horas daquele que alerta para o imprevisto.

Nem sempre fazer o Bem implica em esforço ou sacrifício. Um sorriso tranquiliza quem o dá e conforta quem o recebe. Há coisa mais fácil?

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Se a árvore nega seu fruto aos pássaros, qual o sentido em produzí-los? E se não houver pássaros que a visitem, quem fará a propagação das sementes, para que a função da árvore se cumpra e garanta a continuidade?

A doação é um ato de entrega voluntária e constante, e faz parte do ciclo eterno de evolução. O “dar” é muito mais abrangente que atender a um pedido específico de alguém: é uma troca constante de energias, como a respiração.

Um sorriso é um ato de doação. Todo ato em que se coloca a alma é um ato de doação, mesmo que não haja outro participante; uma melodia executada com amor, os passos elaborados de uma dança ou a mentalização de energias positivas para alguém ou alguma circunstância também são atos de doação.

Doar a matéria sem entrega do espírito é uma transferência sem conteúdo: beneficia apenas a quem a recebe, e somente no plano material. Quando doada com amor e dedicação, multiplica-se em outros planos e auxilia com uma força muitas vezes aumentada.

Não há prioridades quanto a quem se dedicar mais ou com maior urgência: todas as necessidades devem ser respeitadas.

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Não penses no tempo, não questiones sua utilidade ou futilidade.

Te encontras em meio a teu caminho, como teus irmãos, e o que podes fazer é apreciar a relva a teus pés e adormecer quando a noite vier. Se corres além do necessário, ver-te-ás cansado inutilmente. Atrás do que tens de correr? Nada te persegue, o que poderias buscar?

Se vês um outro sentado à beira do caminho, não entendas como um convite para que também o faças; tampouco estenda-lhe a mão para que se levante e te acompanhe: ele tem o seu roteiro.

Se a chuva te surpreende em meio à marcha, tenta abrigar-te provisoriamente em um recanto seco e seguro, mas não maldigas a trilha interrompida, nem mesmo a lama a teus pés. Vê a relva grata e brilhante, sente o seu perfume de agradecimento, observa a alegria dos pássaros na bonança, a ciscar os insetos. Tua estrada está mais fresca e menos poeirenta, o ar seco não mais fere tuas narinas. Podes levar os pés enlameados no riacho, agora mais vigoroso após a chuva, e comer do fruto já limpo à espera de tuas mãos no galho à tua frente.

Te aflige não vislumbrares o fim da estrada, o teu destino? Assim é porque simplesmente não há um final para este teu caminho. Descansa, pois, estas idéias de tua mente, e procura absorver o que puderes apreender na tua jornada, e carrega-o contigo – não como um fardo, mas como o bastão que auxilia e suaviza teus passos.

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Queria falar-te hoje da arte de servir.

Não há tarefa mais difícil e menos estimada entre os seres que a de servir total e permanentemente aos ensinamentos do Uno, missão árdua para as mentes egoístas e não desenvolvidas, aparentemente exigindo uma vida dura e miserável, de abandono e resignação.

Não, não é dessa entrega que falo. Significo a doação do ser à harmonia universal e, se há abandono, é o abrir mão de pequenos jogos que entretêm o atribulado dia a dia neste período.

Queria te dizer do frescor e da alegria que habitam aqueles que perceberam quão fugazes são as conquistas materiais, cuja busca consome a maior parte da vida de nossos irmãos. Se toda essa energia fosse canalizada de dentro para fora, não no acúmulo, mas na distribuição, não na busca, mas na oferta, a verdadeira riqueza viria infalivelmente a eles; uma riqueza resguardada de usurpadores e de eterno valor. Para tanto, é preciso rever inicialmente a noção de personalidade, o primeiro grilhão dessa corrente que nos tolhe e causa sofrimento. Não devemos dar tanta importância a essa vestimenta da alma eterna, pois ela tem a duração de um instante apenas, como instrumento e ferramenta para a aquisição de conhecimentos.

Assim como o corpo nos permite a percepção e a mobilidade, a personalidade é veículo de incorporação de experiências. Assim tens porque assim és – transforma-te e a resposta do Universo também se modificará.

Se nesta passagem és por acaso egoísta, faze o que te cabe para ultrapassares essa condição. Tuas características têm a função de arestas e serem lapidadas – mas jamais adoradas e entronadas como guias de comportamento.

Ao desejares algo, entende que talvez o que se espera de ti seja a superação do desejo, e não a obtenção do objeto almejado. Ao conquistador, não as terras, mas o amor ao erroneamente tido como inimigo.

Abre teus olhos à luz. Se teu caminho te levou a uma porta, não sentes para adorá-la, nem tentes adquirí-la. Abre-a e segue em frente. Teus irmão também são portas colocadas em tua vida para te conduzir a novos patamares. Sabes que sois todos um só. Não os vejas como concorrentes ou adversários, menos ainda com indiferença. A intersecção de vossas vidas é como uma mola propulsora para vosso desenvolvimento espiritual. Serve a fome de teu irmão porque a fome é tua. Ajuda-o a superar o obstáculo porque o obstáculo é teu. Tu e teu próximo vos dividis apenas na matéria, como duas gotas isoladas. Ao caírem no oceano, onde delinear a individualidade?

As noções de espaço, tempo e personalidade são apenas referenciais, como sinais à beira da estrada que te conduz ao destino pretendido. Se te agarras aos sinais, jamais avançarás.

Tuas portas precisam apenas de um leve toque para que se abram.

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Queres que te fale do tempo. É difícil discorrer sobre um tema tão relativo e fazer com que compreendas, com o parco referencial de que dispões.

O tempo não corre para nada, não é como um rio buscando o abraço do mar. Tendes a situar teu tempo sobre uma reta orientada, da origem, como as chamas, para o fim, que idealizas. O tempo é multidimensional, espraia-se em todas as direções simultaneamente, como infinitas setas partindo do centro de uma esfera para todos os pontos de sua superfície; mas cada seta também é multiorientada, e assim sucessivamente. Não podes conceber esta multidimensão, da qual a tua orientação princípio-fim é apenas uma ínfima partícula.

Sim, vês a semente germinar, o broto crescer, a árvores vingar, as flores e os frutos se sucederem, novas sementes brotam, a vida fenecer. Onde está o princípio? Onde o fim? Na semente que brota ou no fruto que cai, liberando nova vida?

Convencionais o ciclo onde te convém, para que te sintas mais seguro. Sabes agora, porém, que são castelos de areia.

Vives a partir do teu nascimento ou da tua partida? Ou ambos, já que permeias todas as experiências?

Perguntas sobre a idade. O que é um dia para o oceano? Um instante, para o rochedo? Teus momentos não têm a mesma direção: vives muito em segundos, podes desperdiçar dias à toa. Se te acresces de experiências frutificantes, justificas tua permanência; se malbaratas horas tolo e desatento, roubas de ti a oportunidade de evoluíres.

Não te ocupes em tentativas vãs de desvendar os mistérios do tempo. À sua hora, eles te serão revelados. Emprega tua energia no cultivo do espírito, no clarear da tua mente.

Deixa as convenções das horas e dias para a lida incessante dos teus afazeres terrenos; são como o tronco caído que atravessas nas margens para cruzares o rio: brevemente necessárias. Tens todo o tempo do Universo em tuas mãos para construíres e pavimentares teu caminho. Ferramenta e não grilhão, pode te ser útil ou doloroso, dependendo de como a trabalhas.

És eterno para a flor de vida breve, fogo-fátuo para a cordilheira à tua frente. No entanto, és para ti tão somente a medida exata, e é apenas isso que deves considerar.

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O trigo tem o seu tempo para tingir-se de dourado e estar pronto para a colheita; da mesma forma o alfazema e o jasmim. Não há pressa na germinação e no amadurecimento do trigo, tampouco o desejo de que ocorra em menos tempo. O trigo não inveja a época da colheita do algodão. Aguarda, simplesmente, afeito aos desígnios de Deus.

Todos temos o nosso tempo certo. Contudo, se querer apressá-lo e insensatez, retardá-lo deliberadamente é falta grave, cujas conseqüências recairão infalivelmente sobre o agente preguiçoso. Não desperdices oportunidade, mas não forjes situações. Está sempre no lugar certo, ao tempo certo.

A flor que não é colhida em sua exuberância não servirá mais tarde como adorno: será um punhado de pétalas secas, recurvadas, escurecidas. O fruto arrancado precocemente não saciará tua fome; poderá, de fato, fazer-te mal. Acompanha o relógio do tempo que existe em cada átomo do Universo, tens a tua leitura.

Abra os olhos à manhã que surge, respira o odor do campo orvalhado. Se te levantas com o sol a pino, perdes o belo espetáculo de nascer com um novo dia.

Escuta o cântivo do vento nas folhas. Poderias acaso colocá-lo em partitura e executá-lo com teus instrumentos? Nem o som das ondas, o rugir do trovão ou o crepitar das chamas cabem em tuas notas, e são música para teus ouvidos, se te sensibilizas.

Nem tudo cabe em letras, palavras, frases. O poema que descreve o ardor do amante apaixonado não é senão pálido reflexo de seu coração em torvelinho. A oração sincera da beata não expressa toda a sua devoção e fervor. Experimenta sentir sem traduzir tuas emoções. Tenta viver alguns instantes sem o vício das palavras: sentirás mais plenamente e sem interrupções aquilo que te toca.

As palavras podem ser prisões perigosas para os sentimentos. Não fales, demonstra; não traduzas, sente. Não busques imagens para vestir as concorrências: deixa-as nuas e livres para que te envolvam na plenitude.

Não esperes: faze a tua parte e deixa fluir a corrente. Não conduzes o barco, muito menos o fluxo do rio. Tens o remo, usa-o de acordo com tuas boas intenções, é tudo. Se quiseres fazer cálculos complicados considerando a velocidade das águas, a direção do vento, as características do teu barco e todas as variáveis que desejares, ainda assim te reservam surpresas o leito do rio, o tronco submerso ou a chuva inesperada. Assim, não calcules milimetricamente a tua rota ou a hora de chegada ao teu destino. Perderás tempo e o gozo do vôo dos pássaros e a correria alegre dos animaizinhos nas margens. Rema com vigor e atenção, desfruta da companhia da Natureza e dos homens e sorri. Tuas coordenadas estarão sempre corretas e te trazendo mais perto de ti e de nós.

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Olha o redemoinho na água: o que vês? Folhas girando, agitadas, indefesas, guiadas por uma força que não percebes de onde vem nem onde termina.

Olha a violência do furacão, sugando o que encontra no seu caminho; igualmente, não podes precisar a origem de seu poder.

Quanto teus desejos te colhem como o redemoinho, podes abandonar-te a seu sabor ou suplantares a sua dança. És folha ou rocha?

O tufão varre plantações e casas, mas não pode levar consigo o solo. És inatingível, se assim acreditares no fundo de teu coração. Nada pode te aniquilar, ninguém de destruirá, porque és inquebrantável, concebido para a eternidade.

Se as raízes não abraça o ventre da terra, o poderoso carvalho tomba com a leve brisa. Se és firme em teu caminhar, não esmorecerás ante a escuridão ou a tempestade. Teus passos firmes te conduzirão para onde determinares – e a teu lado, sabes com quem podes contar.

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Acreditar no Bem já é um passo em direção à sabedoria. Tornar a crer depois de um período de suspensão requer um esforço ainda maior. É como o atleta, afastado de seus exercícios, buscando readquirir a forma perdida.

Abre os olhos da mente e vê a paz e a quietude em cada forma de ser. Ultrapassa os limites externos e vê a essência. Podes fazê-lo, se assim te dispuseres.
Vê os teus olhos, e não com os teus olhos. Sai de ti, dos teus valores, de tua história, da tua casa, de teu corpo: são limites que não te contornam, não te contém. Procura ver com a tua alma, de bagaem muito maior.

Poupa tuas energias. Se te sentes cansado e perdido, não te ponhas a correr às cegas. Descansa teu corpo, sossega tua mente e talvez elabores um plano objetivo. Se o náufrago já sem forças se puser a agitar-se inutilmente, mais rapidamente irá ao fundo. Se soltasse seu corpo às leis da Natureza, boiaria ao saber da correnteza e poderia vir a dar em alguma praia.

Quando sentires que o peso do cotidiano te oprime, recolhe-te a um local seguro, diminui teu ritmo de vibração e procura sentir o ponto de equilíbrio com o Universo. Será como se recarregasses tuas baterias, e verás as coisas com mais lucidez. A pressão embriaga como o vinho – e como o ébrio, há sempre a busca de mais daquilo que intoxica, num crescente que leva à ruína.

Não estás a bordo de um carossel desgovernado. Podes pará-lo quando quiseres. É tão fácil como virar o rosto e deparar-se com uma nova paisagem, fruto de um novo ângulo de visão.

Podes renascer a cada segundo, e desta forma vivenciar plenamente cada instante. A rotina embota, embrutece e limita a experiência. Se te prendes a velhos hábitos, acabas como os animais ensandecidos em seu cativeiro, a repetir indefinidamente os mesmos movimentos, sem qualquer benefício.

É falsa a segurança do já visto, do já trilhado. É a constância do hábito que faz a presa do caçador. Procura descobrir em cada instante a imensa alegria de ser, como o mineiro vasculha nos veios da pedra o ouro sonhado. Se apenas bate a sua picareta mecanicamente, fará desse gesto a sua razão, e não verá a pepita que salta a seus pés.

Não faça dos teus dias o trilho do trem, o ponteiro do relógio, a batida do monjolo. Não esperes, constrói. Está alerta, pois a seta que te indica o caminho pode passar desapercebida.

Deixa o amanhã para o sol que nasce; entrega o ontem ao pó da estrada. Dá um passo de cada vez, com atenção para pisares firme. Não te arrisques a vasculhar o horizonte longínquo e tropeçaras na pedra à tua frente.

Esqueces as pegadas que deixaste para trás: elas pertencem ao vento da história.

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Abre a janela e vê o sol que nasce. Lentamente, as sombras dão lugar à luz, e a vida como que ressurge do período de trevas. Há música no ar, e a mão de Deus se faz presente nas cores, nas aves, nas montanhas que se delineiam ao longe no rubor do sol.

Teu novo dia começa. Uma jornada para produzires, meditares, sorrires, amares, despreocupadamente, naturalmente.

Não programes teus passos, apenas executa tuas tarefas. Saíste da noite revigorado e pleno, cabe a ti manter a boa disposição. Não temas os trabalhos que te aguardam – executa-os, simples, sem adiantares as possíveis dificuldades. Se estas surgirem, lida com elas sem temor ou dissabor, como removes sereno a casca do fruto que irá te saciar e deliciar.

É no fundo do poço que encontra a água cristalina. É no leito de areia que se escondem a pepita e o diamante. A caverna precisa da montanha para que faça sentido: como querias que houvesse cavernas sem montanhas? O tambor precisa da cabaça para seu chamado, mas o som que alerta vencendo distâncias não está contido nem na cabaça, nem no couro, nem não mão do guerreiro que o golpeia: é resultado da união destes elementos.

Tua felicidade não está em teres ou não teres, estares ou não estares. É produto da interação de tuas idas e vindas, de tuas omissões e ações. Ainda precisas do não para veres o sim? Se quiseres, podes dar um passo além disso. Então, não serás mais feliz quando conquistares o que te faltava: serás pleno porque nada te faltará – ou não te fará falta. Livre deste círculo vicioso, tu te terás libertado dos apegos e desejos, e serás por inteiro.

Não te proponho seres como a folha seca ao sabor dos caprichos do vento, mas como a árvores que verga pra que o vento não a aniquile. Concessão dos galhos? Não, sabedoria das raízes.

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É preciso um prisma para separar as cores que compõem a luz. Sabes da sua existência, de suas tonalidades, mas só as visualizas após o cristal, que deve ser límpido e perfeito, ou não obterás a separação.

Tua mente deve agir como se fosse um cristal puro e sensível, decodificando os fatos e acontecimentos e os decompondo em sua real essência e origem. Isto só se obtém com a mente relaxada, sutil e equilibrada, isenta de másculas e dos torvelinhos e atribulações do mundo denso.

Tuas respostas estão no dia-a-dia. Como um estranho que desconhece a língua da terra que visita, não apreendes os reais significados do que te sucede e às vezes não vês sentido no ocorrido. Se dominares, porém, a linguagem que transcende o fato, exergarás com nitidez e profundidade o que te está sendo mostrado.

Te iludes com a dança frenética das atividades do teu mundo, que só te deixam exausto e frustrado. Afasta-te do rodeio inconsequente e te aquieta junto às forças naturais. Despoja-te dos fardos inúteis, materiais ou não, e dedica-te à tua interiorização e evolução. As coisas que devem ser feitas, porém, faze-as com dedicação e seriedade, empenhando-te em obteres o melhor resultado que puderes.

Questiona a essencialidade dos teus hábitos e tarefas, e alarga de vez a carga que te desvia e aprisiona. Concentra-te em ações de real proveito para ti e teus irmãos.

Quando em dúvida, ouve tua voz interior. Com respeito e reverência busca a resposta dentro de ti, onde ela repousa inteira e intacta. Sente nas vibrações harmônicas do Universo a sintonia com o que buscas e verás o caminho certo surgir diante de ti. Tira dos olhos a venda das ilusões, e teus passos te levarão à vitória.

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Tua mão direita não sabe de tua mão esquerda, mas ambas se completam e fazem parte do mesmo ser físico.

A pedra no caminho pode desviar a carruagem. Contudo, a pedra permanece. Por que deveria todo fato ter a mesma conseqüência para todas as partes envolvidas? A conseqüência da pedra é o desvio da carruagem. Ambas interagem para que um fato ocorra, mas de forma diferente.

Procura a resposta em ti. Se a semente não germina, talvez esteja em local inadequado, ou simplesmente não seja época de sua germinação. Qual o sentido em exigir da Natureza a sua materialização em caule, folhas, flores e frutos? Há que haver uma combinação de fatores para que surja o frágil broto de uma nova vida – o solo próprio, a água indispensável, a luz do sol, o adormecer na terra pelo prazo determinado. Sem um destes fatores não se concretiza o milagra do renascer. Se uma semente de mostarda se pretender futura roseira, certamente esperará em vão.

Ergue tua face e fixa o sol, que obedece às mesmas regras que tu, e traça no horizonte o caminho que te foi destinado. O sol não questiona a sua rota – segue-a.
Confia em teus passos, que te foram preparados por outros mais experientes que tu. Abre teu coração ao chamado e não questiones o que não te cabe. Não peças respostas para um problema que sequer saber enunciar.

Sabe onde fica a superfície do espelho e não confundas a imagem refletida com a realidade. Se queres escrever teus poemas, fica livre para sonhá-los e declamá-los. Não os tomes, porém, por documentos de posse. Sonha estrelas e terás seu brilho – mas não os astros.

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Amar: eis o que é preciso.

Se não te parece claro o rumo a seguir, nunca te esqueças da força do amor.

Vive cada momento o exercício da integração com o que te cerca, põe-te todo no que de dedicas a fazer.

Não te inquietes com o futuro: ele é feito com a matéria prima que produzes no presente, e que amanhã será passado; e o teu futuro então feito presente será novo exercício de doação e fé.

O universo cuida de ti se também o preservas e nutres com vibrações puras e harmoniosas.

Se o trabalhador abrir a trilha com afinco e seriedade, evitando os trechos perigosos e buscando ganhar distância, como recear que não chegue a seu destino?

Escuta teu conselheiro interior no silêncio harmonioso da paz e a sua voz te soará pura e cristalina. Pede e receberás, se assim o fizeres por merecer.

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Analisa a tua sombra: dependendo da posição da luz, de sua distância e de seu ângulo, a sombra projetada mudará de tamanho, direção e intensidade. No entanto, não cresceste ou diminuiste de tamanho. Da mesma forma, o trabalho pode parecer-te mais atrativo, cansativo ou negligente, dependendo do teu enfoque. Não importa onde estejas, o que estejas fazendo, e sim de onde tu o analisas. A tua capacidade será a mesma, em qualquer trabalho. Assim como no caso da sombra, é a tua ótica que projeta a imagem, de acordo com a forma de contemplá-la.

As brumas da madrugada se desvanecem com o avanço do sol no novo dia. O teu sol interior pode dissolver a névoa, se assim o permitires. Se deres as costas ao sol, não te queixes da escuridão.

Não te preocupes demais com o futuro: corres o risco de não viveres com plenitude a alegria do presente. Percebe e colhe as pequenas flores que brotam a cada instante, em vez de aguardares o crescimento da árvore ou o amadurecer do fruto.

Os momentos não podem ser armazenados como provisões: o instante passado não tem serventia no presente ou futuro. Absorve o perfume da vida a cada minuto e tua estrada estará sendo construída na direção certa. Não pretendas programar o teu destino – ele se consumará, independentemente de tua vontade.

O curso do rio não pode ser alterado, mas podes embelezar as margens plantando flores e trazendo pássaros para alegrá-las com suas cores, seu vôo, seu canto.

Não queiras conduzir a tua vida: deixa que ela flua através de ti. Veículo, recipiente, leito de rio – deixa a energia fluir e, se possível, acrescenta, purifica e intensifica as vibrações harmoniosas com o teu amor e a tua entrega aos Seus desígnios. É no sorriso que se transmite a Força Criadora; é no gesto largo e ameno que se manifesta o equilíbrio do Universo.

Não há forças antagônicas, há energias dispersas. Simplifica os teus atos descartando o que não constrói. Não plantes ervas daninhas em teu jardim; não alimentes pensamentos viciosos ou rancorosos. Encara o teu ser como um transmissor da Luz Maior, atravessando-o, e cuja intensidade depende da tua transparência.

Exercita o dom de amar que te foi dado por Ele, para que o mundo se torne, a cada dia, mais próximo do Seu reino. Em todos os cantos a energia está disponível: para captá-la, abre o teu coração e a tua mente e confia Naquele que te guia.

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A dor é a contrapartida da ilusão.

Se estendes os braços, poderás colher flores, frutos, ou simplesmente ver-te só, no meio de quimeras.

A partida pode significar despedida ou novos desafios. Se olhas para trás, verás o que deixas; se enfrentares os novos horizontes, conhecerás outras paisagens. Isto te vale para uma experiência finda, ou um instante que passou.

Se te pegas remoendo o peixe que escapou de tuas redes, certamente perderás o próximo cardume.

Se te apraz analisares os motivos do que rotulas de fracasso, sê ao menos justo contigo e com os demais. A ótica condiciona o campo da visão – se tirares a viseira, certamente enxergarás detalhes que te escapavam.

Quereres entender tudo todo o tempo é outra ilusão. Podes entender sons e cores, mas não a sua interação. Já foste alertado diversas vezes quanto à inutilidade deste procedimento que nada te traz de bom, a não ser compreenderes mais tarde os teus erros de julgamento. Dar-te-ia menos sofrimento não cometê-los que reconhecê-los.

Tua vida flui num contínuo sem fim, mas há etapas a serem cumpridas. Não te desvies de tuas obrigações e compromissos – afinal, tu os aceitaste. O verdadeiro equilíbrio está em deixar a vida preencher-te, e usufruí-la alegremente, sem imposições, mas ao mesmo tempo não perdendo de vista o porto de destino. Um barco na correnteza não é necessariamente um barco à deriva. A gaivota se serve das correntes de vento para otimizar seus esforços, mas nem por isso seu vôo é cego. Abre teu coração ao sopro de vida que nunca cessa, mas domina tua energia com fé e precisão.

O que queres está ao alcance das tuas mãos, sempre; não, porém, da forma que imaginas. Se não queres dar-te ao trabalho de pensar estratégias, não lamentes a derrota na disputa. Se te apressas em construir teus castelos sem estudares detidamente os planos, não te surpreendas se desmoronarem num amontoado de pedras.

A flor não cresce ao acaso, o fruto não surge do dia para a noite ao sabor de um capricho qualquer. Há em tudo um exercício de preparação e, acima de tudo, de amor. Planta em teu coração a real vontade e a pura intenção, e nada te deterá. Se aguardas o presente do acaso, aceita o que te vem sem questionamento.

Se acordas no meio da noite e nada enxergas, acende uma vela. Tua intuição é esta luz que pode te apontar os caminhos e momentos. Como a vela dissipa as trevas, a sabedoria do Pai em ti irá te conduzir a salvo em qualquer circunstância.

Para o cientista, o fato é decorrência do estímulo diretamente aplicado a ele: a flor crescerá mais viçosa se adubada com determinados elementos. Isto é uma visão estreita: são aqueles elementos e não outros, em determinada proporção, e aplicados de determinada forma, que geram os efeitos na flor – e naquela espécie, não em outras. E de causa em causa, de origem em origem, te perderás num emaranhado que só te confundirá. O que tens que apreender é a relação causa-efeito, e não as nuances em suas entrelinhas. A relação te diz teu coração; as entrelinhas são produto do teu intelecto. Confia em teu Eu Maior, tenta ouví-lo – ele é mais eloquente do que imaginas.

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Como podes definir a razão da doçura do mel? É o exercício da flor, da lida das abelhas, do brebalho feito em amor. Uma análise científica poderá desdobrar os seus componentes, mas não revelará nos resultados a beleza das flores, o gracioso voltear das abelhas, a diligência da colméia. Se te vês renovado, não busques tocar na origem da mudança: ela veio de para ti, numa combinação de fatores e de tempo. Procura, sim, observar o impacto deste ter renascer nas coisas dos teus dias, e aprende uma nova linguagem.

Quem é responsável pelo desabrochar da flor? De onde parte o sinal para que as pétalas se desdobrem, se componham de uma determinada ordem, se tinjam desta cor e não daquela? Deveria a flor questionar aos céus o sinal recebido ou oferecer aos pássaros e às abelhas, generosamente, o seu néctar?

O animal que vai em busca de alimento também se expõe aos seus predadores. O soldado que se lança ao combate perde a proteção do esconderijo. Deverá, por medo, o animal não ir à caça e morrer de fome para evitar os predadores? Deveria o soldado perder a sua causa, para preservar a sua segurança? Está atento às sombras, mas não rejeites a defesa da justiça e do Bem.

Não analises o trabalho como um fim, mas vê através do teu trabalho. A missão desempenhada com amor e afinco traz muito mais que o mérito do dever cumprido: é o sentimento de realização que faz do porto de destino uma festa; ali chegar por acaso das marés não terá qualquer significado.

Lembra-te de que tudo e todos têm a mesma origem em Deus. Se algo se apresenta em desarmonia, não é a essência, mas a disposição. Se um acorde soa dissonante, não critiques as cordas, as notas, nem mesmo a mão que o produz: o som não harmonioso não está em nenhum deles, mas na sua interação. Ainda assim, o instrumento é belo, as cordas vibram corretamente e suas notas, em uma outra seqüência, produzirão músicas que te enlevarão. Portanto, não acuses o instrumento nem a mão que o tocou daquela forma, pois com os mesmos elementos pode-se produzir maravilhas.

O amor basta em si. Sabes bem da insensatez em querer racionalizá-lo. Amas, e é o bastante. O rio não questiona o porquê desta curva de seu leito virar à direita e não à esquerda, e a árvore não cobra de seu galho um ângulo diferente daquele que seguiu. Poderia ser de outra forma, é verdade, mas poderias igualmente questionar essa nova direção.

Abriu-se em teu caminho uma porta há muito fechada para preservar-te. Entra confiante, não olhes para trás. Não queiras tentar adivinhar os novos caminhos ou traçar previa e pretensiosamente os rumos que de descortinarão. A pureza de teu pensamento será a firmeza no teu passo; a confiança em teu chamado será a certeza do destino.

A ave que sobrevoa o oceano por milhares de milhas sonha com o seu destino. O cavaleiro que percorre terras estranhas vislumbra nas nuvens o rosto da sua amada. O vento que não se aprisiona produz efeitos visíveis e palpáveis. Não desmereça os sonhos, não pertubes as fantasias, não desdoures as esperanças. O que hpje é sonhoda ave, amanhã será seu ninho em terra firme; as quimeras do cabaleiro transformar-se-ão na sua chegada no abraço da bem-amada. O vento que não se apalpa move as dunas, como o amor que te ilumina abre os teus caminhos.

Se examinares a mar a partir da praia, talvez só vejas o horizonte. Se sobes no promontório, quem sabe avistes outras terras, ou o navio tão esperado. Se olhas uma flor de muito perto, verás detalhes de seu interior, mas perderás a noção de conjunto, e mais ainda, não terás a visão do vasto campo florido. Sê como a gaivota, que mesmo pairando a dezenas de metros de altura, pode discernir o peixe sob a superfície o peixe sob a superfície, sem perder a magnífica imagem da plenitude.

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Sente a harmonia das notas. Apenas o vento soprado na flauta produz essa maravilhosa sensação de paz e alegria. Não as tens em matéria, apenas energia, e no entanto são capazes de influenciar teu corpo e espírito.

As cores dos campos floridos igualmente não podes tocar, mas captar, e essa energia fugaz e não aprisionável te transpassa e transmuta.

Não é preciso o ferro em brasa para que tu sintas; não é necessário o despenhadeiro no fim da estrada para que te movas noutra direção.

A mão que gesticula no bailado fala sem palavras, e a dança da bailarina é um quadro em movimento que te narra histórias e te enternece.

De todos os lugares e manifestações te vêm energias de várias características que te podem influenciar sem que o saibas, ou se perder sem que as internalizes. Tua condição essencial é a de alerta, de consciência, sem julgamentos ou ansiedades. Te preocupas em decifrar o vôo do pássaro? Perderás a graça de seus volteios. Não encontrarás dicionários para os sinais que te dizem a cada instante. Se te distrais com a busca constante de significados, perdes a sintonia e a mensagem. Se buscas distorcer as imagens para que caibam em teu quadro, terás um mosaico sem sentido. Aspira o perfume, ouve o lamento do cântico, sente a brisa. Da mesma forma, sente o teu momento atual, teus entes queridos, tua morada. Não os enquadres em perspectivas, normas e valores. No momento certa hás de entender toda a conexão que vos une e rege.

Não busques desvendar o paladar da fruta ao examinares a semente. Tudo a seu tempo e a seu lugar: o ócio sucede à faina, o sono segue a refeição lauta e comemorada, a chuva abençoa a terra crestada pelo estilo.

A causa que buscar se associa a um efeito anterior, que por sua vez foi provocado por uma causa anterior ainda. Não entenderás jamais o ciclo enquanto não vires o todo, e para tal, tens que abrir teus olhos e tua sensibilidade a uma dimensão mais sutil, que sentes e sabes existir.

Desfruta cada experiência que te vem, como uma criança se maravilha com um brinquedo novo. Não irás cansar-te, todavia, como o pequeno que se enfada logo a seguir, pois nunca cessarão de vir a ti novos obstáculos, estímulos, conhecimentos, vivências.

Se tua mente se abstiver de julgá-los e de tentar desmontá-los para descobrir a mecânica de seu funcionamento, poderás vivenciá-los plenamente, e com enorme prazer.

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Uma experiência bem vivida vale mais que um plano bem feito.

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A cachoeira despenca de grande altura sobre o lago, continuamente. Não obstante, as águas do lado mantém seu nível, porque servem às plantas e às matas. Se a água se contentasse em servir apenas a si, o lago transbordaria.

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O vaso só dá forma ao líquido enquanto o aprisiona. Quebra o vaso, liberta-se das falsas paredes que te tolhem e limitam. Não permites que falsos grilhões te impeçam de alçar o vôo merecido e alcançar os desígnios que te foram destinados.

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Uma estatueta, por mais bela que seja, representa um momento estático. É aquele momento, e não outro, que foi imortalizado. Fica atento a todos os instantes da tua vida. Só assim poderás observar um momento único e diferenciá-lo dos demais, simples rotina material.

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A paz que buscas está em tuas mãos. Não corras atrás do passado; o tempo que conheces é uma ilusão. Ele se constrói a cada instante, como as ondas do mar.

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Para corrigires um erro não basta seguires o caminho inverso: tu estarias na mesma trilha. Não corrijas a rota voltando ao ponto de partida: fixa-te no teu ponto de destino. Ele estará sempre lá, e poderás vê-lo de onde quer que te encontres. Ouve a voz de teu coração e saberás sempre o rumo a seguir. Para vê-lo, contudo, é preciso estares em silêncio – silêncio na alma, no espírito e em tua mente.

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A intromissão está na intenção, não no ato. Respeita as forças que te cercam e com elas aprenderás muito.

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Não há opostos.

À primeira vista, dois riachos têm cursos diferentes, mas convergem para o mesmo fim. As águas da cachoeira que caem na vertical são as mesmas que correm na horizontal, e é o rio agitado e nervoso que forma o lago plácido.

A paz e a tranqüilidade espiritual são forjadas nos momentos de turbulência. Aprende a vivenciá-los, a observá-los – há neles um grande conhecimento a ser extraído. Não deixes que a agitação, os obstáculos e os imprevistos te envolvam a ponto de não conseguires manter o discernimento e a ponderação.

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O barco avança rio acima – e também navega rio abaixo. Ao observador despreparado, o movimento é o mesmo. É o barqueiro, porém, que sente no remo o aumento e a diminuição da correnteza, corrigindo seu esforço de acordo com a situação para atingir o seu destino, a favor ou contra a corrente.

Com ele, conduze a tua vida contornando os obstáculos, vencendo a oposição e mantendo firme o propósito inicial. Não importa que a tempestade te obrigue a procurar abrigo e, portanto, a retardar tua chegada. Chegarás, simplesmente, e é o que importa.

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Um aceno pode significar boas-vindas ou despedida; medita sobre isto.

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As águas do rio não questionam o leito porque correm, nem o contorno das margens. E assim fazendo, correm tranqüilas e desenham o leito e as margens que as contém.

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Leva teu sorriso àqueles que te parecem confusos ou deprimidos. É o mais simples e genuíno auxílio que podes prestar.

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Purifica tua mente ao deitares para dormir. Pensa nos problemas que queres ver resolvidos, nas pessoas que deves ajudar, nas dúvidas que te confundem. Entrega ao Poder Maior o pedido de orientação e te verás atendido, se teu coração for sincero e dedicado.
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Orientar-se é buscar a luz. Ajustando a rota com os astros, lendo o tempo no sol, o homem tem na fonte de luz a sua estrela guia.

Tens a luz em ti – sabes e sentes a sua energia. O que deves aprender é a sua interpretação. Sem a sabedoria milenar, as estrelas são apenas decoração para os olhos e inspiração para os poetas; se dominas a sua linguagem, chegarás a salvo em seu porto de destino.

Podes dispensar igualmente tua luz interior, feita energia, de várias formas. Podes mesmo reduzir a sua intensidade, como um farol envolto pela neblina. Para que escutes a sua voz, deves estar em silêncio; para que observes a direção que seu facho aponta, precisas estar em uníssono com a sua vibração. De que te serve um farol, se lhe dás as costas?

Dia após dia brilha em ti o caminho, com a pureza com que foi criado. A ira, a desatenção, a desarmonia de corpo e espírito toldam a tua visão e te vês perdido.

Como podes te perder se os caminhos são de Deus? Podes, no máximo, não saber para onde leva a estrada que percorres, mas fica atento aos sinais: estás no plano ou escalas montanhas? Estás só ou a trilha é concorrida? Quantos te seguem e quantos te precedem?

Se tens fé em teu Guia Maior, caminha em paz e não maldigas os pedregulhos que te ferem os pés ou os cipós que se enroscam em tuas pernas. Talvez este cipó encerre a água que te mitigará a sede e o caminho pedregoso te afaste dos pântanos – mas para que discutir caminhos, se o que importa é o ponto de chegada? Dirige o teu coração para o objetivo maior, e não pensarás futilidades.

Teu alforje te pesa aos ombros, mas contém o pão e a coberta de que necessitas para progredires. Sem este peso que te incomoda, não conseguirias avançar muito. As adversidades são teu pão e tua coberta, e possibilitam o teu evoluir constante.

Se anulares a tua personalidade impertinente, o ego que faz dos homens pavões vaidosos, verás com que serenidade podes prosseguir.

O teu livre arbítrio vai até o compromisso com o equilíbrio geral. Tudo podes tentar, dentro de tua esfera de ação, sem interferires na liberdade do próximo. O ato que esperas de terceiros é livre arbítrio deles, pelo que são responsáveis. Tu serias conseqüência, mas em teu momento, és causa. Que sentido faz a causa aguardar as conseqüências? És o início, o princípio da caminhada. Os cruzamentos e encontros eventuais que vivenciares são superposição de karmas, são trabalhos em conjunto, porém tu és o condutor e responsável pelo teu avanço.

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Abre o teu peito à luz e permite que ela ilumine cada recanto do teu coração. O amor é luz, a bondade é luz. Se quiseres sentir em ti o sopro de Deus, abres as janelas da tua mente para que entre a brisa.

Se todas as coisas fossem brancas, terias a monotonia e a confusão. No entanto, no branco estão todas as demais cores. Sabes disso, mas não as vês, e o conhecimento não te dá o colorida que alegra as flores e os pássaros. De que te servir[a saber do espectro que produz o prisma se não puderes admirá-lo?

Saber com a mente racional não é vivenciar o espírito criador: é um exercício frio e sem resposta. Deus não te deu os sentidos para os analisares sob um microscópio; tampouco para acorrentá-los e subjugá-los por teus valores criados e recriados ao longo do tempo, de acordo com a conveniência do momento. Tens o olfato para sentires o perfume da rosa e da relva fresca, recém-banhada de chuva. Teus ouvidos te embalam ao som da cascata cristalina que despenca do alto das pedras. Teu paladar te desvenda a doçura do mel e o néctar do vinho. Podes sentir a brisa fresca do mar e o sol inclemente do deserto. Vês as cores, percebes distâncias.

Ainda que nuca houvesses lido um livro ou escutado um Mestre, teus sentidos te dariam a mesma resposta. Além destes, tens outros que te podem abrir portas que jamais sonhaste existirem. Tua sensibilidade pode perceber energias que te rodeiam e que podem transmitir-te sensações e experiências. Como o homem sem tato não percebe a queimadura do fogo e portanto não sabe evitá-la, sem desenvolveres essas capacidades andas às voltas, quando o caminho sempre esteve à tua frente.

Como o olho complementa o ouvido e do olfato depende o paladar, é do inter-relacionamento dos teus sentidos e percepções que se constrói a tua ponte. Se te aquietares, perceberás a resposta querendo brotar de ti no momento da hesitação.

Teus sentidos te traduzem o que o mundo exterior apresenta. Teus outros sentidos que te traduzem o que o teu Eu interior te mostra a cada instante. Olha para dentro, escuta a tua voz, sente o vibrar que te grita as respostas que tanto buscas.

Tens em ti um Universo tão vasto quanto o mundo que conheces. Cabe a ti abrires tuas portas e sentires a perfeição desse Paraíso.

Aprende a ler os sinais, não descuides das pistas. Estuda nas estrelas do teu céu interior a rota que te levará, com segurança e determinação, ao porto seguro de tua realização.

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Quanto mais alto se alça a árvore, mas necessita que suas raízes se aprofundem no solo, tanto para alimentar seu crescimento como para lhe dar sustentação. O teu desenvolvimento interior deverá estar enraizado nos hábitos sadios praticados com persistência.

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A energia sexual está para o homem assim como o sol para o sistema planetário: é a fonte criadora. Com inteligência, é possível utilizar o sol não penas como fonte de calor, mas transmutar a sua força em movimento e luz, por exemplo. O teu grau de evolução será o agente transmutador dessa tua energia, independentemente da tua vontade racional.

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É cortando os galhos desnecessários que se faz a árvore mais forte; é desbastando os frutos excessivos que a colheita se faz rica e compensadora.

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Fora da terra, o bulbo se mantém por muito tempo nesta forma. Se o devolveres ao jardim, ele produzirá outra planta, idêntica à que o gerou.

Não procures resolver desentendimentos antigos e desgastantes em teu plano denso: o problema voltará a brotar, como uma nova planta daquela raiz. Supera o mundo denso e conversa com a alma daquele que te hostiliza, com quem tens vínculos tão fortes. O problema será resolvido.

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Assim como transportas no cântaro a água fresca da fonte que te mata a sede, traze em teu coração a luz de Deus Pai, que aliviará a sede de tua alma.

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O farol só cumpre a sua missão – orientar os navegantes na escuridão – se dispuser de uma luz forte e límpida e se estiver situado em um ponto elevado. Nestas condições será bem visível, e o facho de sua luz penetrará nas trevas, auxiliando os barcos a manterem as suas rotas.

Sê como o farol: mantém sempre brilhante a tua centelha divina e eleve-a bem alto. Ela te ajudará e encontrares teu caminho e também a orientares os teus irmãos.

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Observa a roa d’água: a força da corrente a move porque a água não é retida pelas pás; caso contrário, a roda tornar-se-ia pesada demais para ser movimentada.

Utiliza a energia das situações para impulsionar-te na direção desejada. Não retenhas essa energia; ela apenas o bloquearia, gerando desgaste por não ser liberada.

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Não perderás a identidade ao te entregares à senda da Verdade, abandonando hábitos fúteis e já sem sentido. Ao redor do furacão tudo se agita, mas o centro se mantém intocado. Tens medo de deixares de ser o que és, mas tua essência permanecerá pela eternidade.

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Servir é mais importante que dar.

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Olha o redemoinho na água: o que vês? Folhas girando, agitadas, indefesas, guiadas por uma força que não percebes de onde vem nem onde termina.

Olha a violência do furacão, sugando o que encontra em seu caminho; igualmente não podes precisar a origem de seu poder.

Quando teus desejos te tolhem como o redemoinho, podes abandonar-te ao seu sabor ou suplantares a sua dança. És folha ou rocha?

O tufão varre plantações e casas, mas não pode levar consigo o solo. És inatingível, se assim acreditares no fundo de teu coração. Nada pode te aniquilar e ninguém de destruirá porque és inquebrantável, concebido para a eternidade.

Se as raízes não abraçam o ventre da terra, o poderoso carvalho tomba com a leve brisa. Se és firme em teu caminhar, não esmocerás ante a escuridão ou a tempestade. Teus passos firmes te conduzirão para onde determinares – e a teu lado, sabes com quem podes contar.

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Quando as pessoas se drogam, não o fazem para escapar à realidade: buscam fugir do seu próprio desequilíbrio. Obviamente não conseguem resolvê-lo desta forma, e assim apenas tapam com um tênue véu a sensação de desconforto que a sua desarmonia traz.

Se estás bem centrado, usufruis de cada instante com plenitude, e nada se compara ao bem estar que este sentimento proporciona: sentes em cada passo o vibrar da energia universal, e vês a realidade com toda a sua beleza e verdade.

O tóxico não libera o viciado: enclausura-o mais implacavelmente em seus porões escuros, pois não se pode fugir de si mesmo.

O homem tem cultivado todo o tipo de drogas, vícios e manias para se ocultar da verdade. Em um redemoinho fútil, mas poderoso, tem se mantido alheio à vida, olhando para dentro do torvelinho, mas incapaz de ver a si mesmo.

Se queres a verdadeira liberdade, o êxtase supremo, o sentir de todas as células de teu corpo, não busques fora de ti a experiência, pois nenhuma substância te dará pálida imagem do que tens em ti.

Aprende a ser livre como os animais em estado selvagem, que só obedecem a regras não escritas nem castradoras. Têm o mundo sem possuí-lo, bastam-se a si próprios e jamais afrontam o equilíbrio que os cerca – e quando esmorecem tornam-se alvo das armadilhas que lhes prepara o homem.

Não aprofundes as tuas feridas apalpando-as a todo instante, como que para te certificares que estão lá: aprende com o espinho que te feriu por tua inabilidade e não o maldigas, se o que te empurrou ao seu encontro foi a tua falta de atenção. Confia em Deus – só Ele pode pensar tuas chagas.

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Riso.

Cântico das fontes, farfalhar do vento nas folhas, trinado do pássaro livre.

Deus é alegria, o mundo uma celebração de felicidade.

Na harmonia, a paz; no silêncio, o reconhecimento da voz interior. Sorrir é demonstrar o equilíbrio, o bem-estar, a predisposição à amizade, ao amor, a pujança do corpo sadio e bem centrado.

Um sorriso é um poema mudo, um sem-palavras que transmite o que páginas não poderiam fazer. É um ato que atravessa o mais empedernido coração, que desarma a mais preconceituosa criatura.

O sorriso vem de dentro, é a alma que aflora aos lábios, ilumina o rosto e enlaça os seres. Sorrir é vibrar em uníssono com o Universo, em um casamento perfeito.

Não te esqueças nunca de sorrir sempre. Não aguardes um motivo especial, porque o tens permanentemente: existes, tens a centelha divina em ti, és de uma força inquebrantável. Não busques fora de ti a razão para sorrir, pois ela resplandece fulgurante e eterna em todo o teu ser.

Paira sobre tuas expectativas, vê a infinita pequenez de tuas frustrações comparadas ao dom da existência que te foi dado. Tens as cores, os perfumes, o calor do sol, os sons; tens um coração que se aquece aqui e acolá por este ou aquele motivo, tens a companhia e o aconchego dos que te são caros; tens a delícia da surpresa que te reserva cada dia, tens o Universo em sua perfeição em ti.

Sorri a cada degrau vencido, a cada queda que te ensina, às nuvens que te dão o valor do sol.

Sorri e sente a retribuição ao teu sorriso como um abraço de tudo o que te cerca.

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A luz do sol é de enorme intensidade, gerada por uma força que atravessa o vazio do Universo, percorrendo distâncias incomensuráveis para nos banhar e iluminar. No entanto, basta que feches a tua janela para que impeças a luz de entrar em teus aposentos. O que é a frágil folha da veneziana perante a força do sol? Não obstante, ela o cerceia.

O amor que transborda em cada manifestação de vida é infinito, puro e inesgotável; mas basta que cerres teus olhos a ela para que não te apercebas da sua proximidade e te cegues a seus efeitos.

Pode o enfermo encerrado no quarto fechado queixar-se da inexistência do sol? Nem mesmo o cego poderia, pois sente na pele o ardor estimulante de nossa fonte vital. Podes tu queixar-se da ausência de amor em teu mundo? Abre os olhos do coração e verás que em cada sopro de brisa tens o alento da Natureza a te embalar e acariciar.

Se teus aborrecimentos filtram as entonações da voz, toldam o brilho do olhar do irmão que te fita e esfria o calor da mão que te afaga, não foi o amor que se retirou de ti: foste tu que te isolaste da sua presença.

Há de tudo ao alcance de todos, não há escassez no Universo. Que não reclame da falta de peixes o pescador inábil que mal lança sua linha às águas.

Se não desabrochar em ti o verdadeiro desejo, não esperes que te caia aos pés como fruto passado o objeto de tuas vontades. Tudo a seu tempo – mas há frutos para todas as estações. Só morre à míngua aquele que não sabe ver ao seu redor. Se desejas morangos em pleno verão, ou que a chuva te banhe em tempos de estiagem, a quem responsabilizar?

Não peças mais que a tua necessidade te impede, pois se neste reino não há escassez, menos ainda há espaço para sobras ou desperdícios. A medida da disponibilidade é a medida da intenção com que a desejas. Pede o justo e dele terás na medida certa.

Nosso pai não estabelece divisões ou aquinhoa a cada um: o pão é disponível a todos, e o excesso de hoje é a escassez de amanhã: pega o teu na correta medida, e dele nunca te faltará.

A paz envolve o homem como o líquido cobre o interior do recipiente que o contém.

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É possível que as águas revoltas revelem o fundo do rio? É plausível que as águas calmas e transparentes não venham a estagnar-se? O movimento conduz à mudança, sempre?

O vento forte deixa seus vestígios sem tocar as coisas. As ondas incessantes cavam a rocha e não são palpáveis. A força que lapida a pedra não precisa vir do cinzel ou do martelo: o vento e a chuva esculpem intrincadas figuras com a sua energia invisível.

Se queres lograr êxito em determinada jornada, não tens que assestar tuas armas e derrubar muros. A força da tua palavra é mais poderosa que a de teus músculos, e a de tua mente infinitamente maior que a de teus lábios. Se pensares antes de agir, se usares a mente para guiar teus lábios e passos, poderás depor as armas, então desnecessárias. A palavra mal proferida ergue barreiras de igual poder, e batalharás em vão. Tens no sorriso e na compreensão aliados invencíveis, que podes acionar a qualquer momento. Está atento, pois precisas deles a cada passo.

A ira causa em ti um desequilíbrio extremamente perigoso, porque turva tua visão e te lança num poço sem fundo. Não tens que vencer sempre; na verdade, há muitas batalhas de que nem deves participar. Se disparas tuas flechas a esmo, poderás estar fatigado demais quanto teus esforços forem realmente exigidos. Seleciona tuas causas, pondera sobre a melhor estratégia e só então te lances a campo. Queres caçar perdizes ou borboletas? Tua pesca será de linha ou com a rede? Tua música soará melhor no som doce da flauta ou nas cordas da harpa? Se não defines teus fins, não prepararás os meios adequados. O resultado será a inútil dispersão de forças para nenhuma conclusão satisfatória.

Podes olhar para milhões de estrelas de uma só vez, mas não conseguirás tocar em uma só delas. Ouves centenas de notas em um concerto, mas lerás uma a uma nas partituras. Pisas em milhares de grãos de areia a cada passo, mas é o conjunto de teus passos que te leva ao teu destino.

Cessa o movimento de tua mente. Não desperdices teu tempo, tuas oportunidades e tuas energias. Evita a rotina mecânica e infrutífera e lembra-te que cada momento é uma combinação de fatores a ser vivenciada. Não repises teus passos: busca sempre novos caminhos, pois deles surgirão situações que te podem enriquecer. Não avalies esta nova curva pela que já trilhaste: elas são, simplesmente, diferentes e únicas. A experiência acumulada não é fiel da balança para avaliares novas etapas, e sim baliza para ponderação. As ondas que o sonar emite podem ser sempre da mesma natureza, mas o eco que retorna é necessariamente único e reflexo dos perfil que se lhe apresentam.

Não uses teu banco de dados como filtro permanente diante de ti: mantém-no à mão para consulta, quando assim o desejares. Não permitas que ele roube de ti o prazer de desfrutar do frescor de uma nova descoberta.

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Não te deixes abater quando o sol não surgir em teu horizonte. Apesar das nuvens que o ocultam, sabes que o seu brilho se mantém, ainda que toldado por uma matéria tênue e efêmera. Não dês mais importância às nuvens que a merecida.

Os calos nas mãos daquele que labuta no campo podem ser repugnantes aos olhos dos outros, mas para ele são como um troféu, a prova de sua dedicação e esforço, assim como a cicatriz pode ser motivo de orgulho para o guerreiro.

Os tropeços e quedas no caminho significam que estás tentando seguir. Cair e perder-se fazem parte da busca pela trilha correta. Olhas os que estão atrás de ti e outros à tua frente: inspira-te nestes e ajuda aqueles quando puderes, sem te descuidares de teu exercício de ascensão. Nesta busca não há intervalos ou paradas para descanso.

Ama teu caminho como aqueles a quem estimas, pois será através dele que chegarás ao conhecimento de ti, de tuas limitações e de teus temores. Não hesites em dar o próximo passa – ele foi preparado pelo passo anterior e preparará o seguinte. Abre os olhos da mente e a trilha a seguir surgirá clara e inconfundível.

Deixa de lado a carga inútil que te faz cansado e mais lento: ela de nada te servirá. Renova tuas energias no pensamento firme e decidido da busca, da oferenda e do amor.

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A água brota da nascente e segue o seu caminho. A rocha que surge à frente não lhe susta o fluxo – por entre pequenas frestas, contornando a pedra bruta, escorre docemente em direção ao seu destino. Se preciso, cava aos poucos saídas na superfície dura, e redesenha as margens e o leito dos rios.

Quando te deparares com um obstáculo que te barre o caminho, não desanimes nem te exaltes. Pensa apenas que, sem sombra de dúvida, hás de superá-lo e vencê-lo – e aproveita esse teu período de esforço para meditares sobre o real significado deste empecilho que te surgiu à frente.

Se tua trilha, porém, é excessivamente pedregosa e acidentada, considera uma outra alternativa. Desde que tenhas os olhos postos em teu objetivo e destino, podes optar por um caminho mais suave e confortável. Não precisas te impor sacrifícios insustentáveis para que prossigas e te eleves, especialmente se esse esforço te deixa irritado e prostrado.

Examina o tronco que atravessa tua estrada com curiosidade viva de criança, e faze dessa experiência um jogo que te estimule e enriqueça; e não esqueças, um outro tronco como aquele, atravessado sobre o rio, permitirá que o atravesses e sigas em frente.

A opção que teu irmão pode não ser a mais indicada para ti, como a toca do morcego não serve, necessariamente, de abrigo ao ninho do pássaro, e vice-versa. Não queiras trazer teu irmão à tua jornada. Se for dos desígnios de Deus, vossos caminhos cruzar-seão ou fundir-se-ão em um só, ainda que por pouco tempo.

Prestas tanta atenção às rédeas que és capaz de não exergares o solo por onde cavalga o teu animal, e assim te perderes. As rédeas não são um fim em si, servem ao propósito da viagem. Usa-as, pois, quando necessário, e põe tua atenção tem teu caminho, pois é através dele que chegarás ao teu destino.

Mais vale estares nu e desarmado, mas convicto do que queres, do que teres um exército a te proteger e nenhuma estratégia. Tu dependes de ti primordialmente, e só poderás acrescentar outras forças às tuas se estiveres em marcha.

O coração vazio de idéias e a mente oca de intenções são como o tronco podre que tomba na estação das águas – as mesmas águas que alimentam e tornam rijos os troncos sadios.

Não sejas como o falso crente que recita orações feitas apenas de letras e palavras: sente no teu âmago o sentido que dá valor a este texto, que de outro modo seria um amontoado de sinais desconexos.

Não és um planeta destinado a refletir o brilho de estrela próxima: tens luz própria.

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A diversidade de valores é necessária à evolução. Se apenas houvesse sábios, o mundo, como o conheces, deixaria de existir. É preciso que teu irmão te confronte para que assumas tua linha. Não desprezes, portanto, aqueles que te parecem indignos, segundo teus valores.

A luz cria a sombra, a montanha gera o vale; não que devas aceitar aqueles valores ou comportamentos que te parecem doentios – eles são a matéria prima com que esculpes o teu Eu.

Para que o escultor chegue aos traços desejados, muita pedra há que ser desbastada e removida. Assim, os lábios perfeitos da virgem esculpida são resultado da subtração. Se não houvesse a rocha bruta a ser lapidada, eles não existiriam.

O que te confronta é um alerta para que dispas o que não interessa ao teu caminho. Não olhes os cacos que caem aos pés do escultor; observa os belos lábios que surgem da rocha à custa dos golpes duros que a ferem.

Quando sentires em ti o cinzel que molesta, é Deus esculpindo a Sua obra. Não vejas a ferida, e sim a perfeição revelada pela porção retirada.

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A defesa é o oposto da entrega. Se fechas as portas temendo o inimigo, também te enclausuras. Aquele que se protege de tudo não passa de um prisioneiro. É preciso sair aos campos para sentir o odor da relva ao amanhecer e o perfume da terra molhada – ou queiras percebê-los através de tuas janelas?

Confundes precaução com fuga: aquele que dá as costas ao inimigo em desabalada retirada já entregou seus tesouros e foi derrotado. Vencer não é evitar o saque; conquistar não é abandonar os campos de batalha. Luta com as armas de que dispões, e crê que Ele coloca em tuas mãos exatamente o que necessitas para a tua empreitada.

Não desejes outros irmãos guerreiros que não os que estão contigo, nem procures adiar para outro momento o que se desnudou para ti agora. Não julgues, vence; não penses, age. Não importa o motivo que te lançou no embate, todos são igualmente fúteis – ou cruciais. Sê o melhor que podes e só tem em mente o ganho de tua causa. Respeita, porém, as regras do combate e nunca esqueças que o corpo atrás do escudo que golpeias é de teu irmão. Se te parece contraditório, medita sobre a tua identidade com ele e verás que na verdade, não combates outro que não a ti próprio.

Derrota tuas amarguras, aniquila tuas ansiedades e faze de tua vitória a superação de todas as causas. Só tens a combater os teus inimigos internos, pois neste reino de Deus nada há contra ti a não ser o que tu mesmo criaste.

Assim, quando te sentires ameaçado, procura dentro de ti aquilo que te apavora e cerceia, e agradece àquele a quem usualmente chamarias de oponente, pois ele trouxe à tona as tuas mazelas.

É assim que te digo para não abandonares a luta, não te denderes ou fugires do que pensas ser o inimigo: carregas tua arena para onde vais, acalentas teus opositores em teu coração e tua mente.

Queres a liberdade, os louros? Lança à terra não a espada, mas os monstros a que deste vida: ninguém melhor que tu para conhecer suas fraquezas e descuidos. Te parece difícil? Não te propus um jogo de banalidade. Teu prêmio, porém, vale mais que a tua vida: terás tua liberdade, tua paz e teu equilíbrio.

Lembra de a cada passo vigiares teus fantasmas, que nunca descansam; mas em ti, a Luz Maior nunca cessa de brilhar.

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Dá-se o rótulo de evolução a muito que não passa de transformação.

A semente evolui em caule, flor e fruto. Produz nas entranhas da terra o que há de te matar a fome e mitigar a sede.

A lagarta se vira em borboleta, abandona o rastejar e volteia entre as flores, observando o vale em perspectiva.

E tu, no que te tornas? Criança feita em homem, pobre tornado rico, o anônimo agora poderoso – evoluis desta forma? Não, apenas tornas-te outro. Mudas teus pontos de vista, vivencias novas situações, frequentas outros círculos. Podes contudo afirmar que é o bastante para que te assegures maior?

Evoluir não é exponenciares características que te competem.

Acrecentares simplesmente degraus à escada que te leva ao piso superior não te farás mais próximo do céu.

Se queres evoluir verdadeiramente, abandona a escada inútil, despe as vestes pretensiosas que impressionam teus aduladores, mas que sabes sem valor. Cresce para dentro e busca ali o sol, como o frágil broto caça o raio de luz.

Podes lapidar teus talentos ou te tornares especialista em um sem número de ciências. Se nada esculpes com essas ferramentas, serás um bezerro de ouro com tuas feições, não te levas a sério.

A mão que hoje te aplaude não hesitará em lançar-te a pedra se caíres de teu pedestal. Não dês, pois, ouvidos a esse aplauso fútil e interesseiro que o teu egoísmo alimenta. Em vez disso, toma essa mão e através da união tu crescerás – e assim também esse teu irmão.

Não és nada a partir de ti somente, cresces em função da tua realização através de um ato de amor puro. O que começa e termina em ti nada acrescenta. Vives da troca entre o teu ser e o Universo, como a raiz vive da luz absorvida pela folha, e essa da força vital que a raiz coleta, e assim liga o sol à terra e vive dessa troca que viabiliza. Raiz e folha interdependem para que toda a planta sobreviva, assim como as energias vitais do sol e da terra precisam do vegetal para a sua transmutação. Neste ciclo, orquestrado por mãos divinas, consiste a evolução.

Faze-te instrumento como a árvore, e permite que flua de ti e para ti a energia criadora que move o Universo. Ponte, canal, elo: tu és responsável pelo equilíbrio e difusão desta força, que podes refletir em qualquer direção. Cuida, pois, de apontá-la sempre para o Bem maior, e não tomes dela para fins mesquinhos e egoístas.

Espelho de Deus, a ti cabe refletir a perfeição de tua concepção.

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Mesmo nos mais profundos recessos de tua consciência há a noção do amor e dos teus deveres. Se procuras dirigir a atenção para o teu interior e serenizar tuas idéias, verás surgir límpida a mensagem, como se descortina o fundo do lago com as águas calmas. A agitação tem como efeito o turvar da visão e coloca em suspensão os sedimentos; é necessária, algumas vezes, para arejar as idéias e oxigenar os valores, mas como estado permanente traz mais malefícios que proveito.

O domínio dos sentimentos e idéias requer um árduo esforço, mas a partir do momento em que os seus benefícios se tornam claros e palpáveis, passa a ser um processo que se auto-alimenta.

Estados de energia atraem forças de vibração compatível, potencializando-os. O Bem atrairá o Bem, num processo evolutivo progressivo; a ira, a revolta e as emoções inferiores acabam arrastando o indivíduo para vibrações cada vez mais tensas, num processo disruptivo fatal. Já percebeste que a partir de um determinado nível, as vibrações contagiam todas as manifestações e atos do ser humano. Estando voltado ao equilíbrio, toda a tua utilização de energias passa como que por um filtro; onde automaticamente e sem predeterminações são alimentados hábitos nocivos ou incompatíveis com esse novo equilíbrio; mas este é instável, e sem o total auto-domínio o indivíduo pode facilmente retroceder a estados mais grosseiros. A única forma de manutenção do rumo à harmonia é estar alerta e verificar, a cada passo, se há ressonância com a atitude mental que se conquistou.

Por inércia ou surdez aos chamados de sua consciência, o homem vive nesse movimento pendular de ascensões e quedas. Não se trata aqui de uma proposta inquisidora; ao contrário, falamos da defesa incondicional da liberdade, muitas vezes trocada por “colares de contas e espelhos”, em função da ingenuidade, irreflexão ou imperdoável e nociva condescendência.

Antes de agir, vê se o ato está de acordo com o patamar em que te encontras, se te dá prazer e alegria; caso contrário, abandona o projeto. Tu és o teu diapasão, e só tu podes sentir a afinidade do que te é proposto com a tua direção; só tu podes sentir a ressonância do que te vem com a direção dos teus caminhos. Busca sempre a alegria, certeza maior de coerência e paz.

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O corvo e a gralha existem e têm um função. Por mais que haja pessoas que não os apreciem, têm uma razão de existir. Se não te agradam os hábitos dos corvos, não te alojes onde costumam ficar; se te irrita o som das gralhas, não procures o seu recanto. O que não faz sentido é ires ao seu encontro e depois te arrependeres – ou pior ainda, quereres exterminá-los completamente. O problema não são os pássaros, mas a tua relação com eles.

Os hábitos que te desagradam são como os pássaros: evita-os e não te lamentes do fato consumado. Seria muito fácil se eu extinguisse estes hábitos para ti. Quais seriam as consequências? Se os caçadores que odeiam os corvos e as gralhas os exterminassem, o que poderia ocorrer? Pragas, proliferação de determinados insetos, todo um desequilíbrio pela busca do mais fácil, a ilusão das soluções definitivas. Aprende esta lição: estas não existem. Cada ato trará outro e mais outro, e assim num movimento que não terá fim neste teu Universo.

Não lamentes a montanha à tua frente: contorna-a e encontrarás a paisagem buscada. Isto não é fugir da montanha: é vencê-la.

As pessoas não constroem isoladamente: o que se edifica é através da relação entre elas. Um castelo erigido em torno de uma pessoa não é moradia – é uma prisão. Abre as portas e janelas de teu coração para que nele circulem as pessoas, para que através de teu amor exercido se fertilize o solo em que nascerão tuas virtudes. Derruba as paredes que impedem o sol de iluminar cada um de teus passos.

Não guardes teu pão para dá-lo a quem possa estar mais faminto que o irmão que se acerca de ti. Dá-o ao primeiro que dele necessitar; assim, terás sempre à mão o pão na medida da necessidade daquele que te procurar. Não julgues o mérito de quem pede pelo tamanho de sua carência, pois não sentirás a sede que o atormenta. Pouco para ti pode ser o limite da dor para teu vizinho. O ato de dar não se prende a conceitos ou julgamentos – deve ser tão espontâneo e pronto quanto te for possível.

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O rio fertiliza as terras e provê a colheita farta. Este mesmo rio, logo adiante, despenca em forma de cachoeira e forma um grande poço, fornecendo água pura e fresca aos homens e possibilitando a vida de inúmeras espécies de plantas, aves, insetos e animais. Qual de suas funções é mais importante ou prioritária? Todas, porque são a razão do rio. Sua ação muda a cada trecho percorrido, superpondo benefícios e beneficiados. E o rio segue sem se deter neste ou naquele ponto, sem priorizar esta ou aquela situação.

Novamente, és tua quem divide o uno, o contínuo. Uma seqüência de não é o vôo do pássaro: são retalhos que não transmitem o objetivo, a continuidade. Centenas de fotos não serão tampouco o vôo do pássaro, porque o ser desconhece a artificial divisão de tempo e espaço. É como fechares tua mão, crendo teres aprisionado a brisa. Terás dedos crispados, nada mais.

Se te pões a examinar teus dias – que já são uma subdivisão de nenhuma relevância para o Todo – e os atos que ocorrem como elos, terás uma corrente que te tolhes e te limita. O instante não é representado por uma fração convencionada do tempo; é a presença de Deus feita em ti e vivenciada sem interrupção. Não podes senti-lo neste e não naquele momento, ou em determinado ato e não em outro.

Cabe a ti escutares a tua voz interior como parte integrante de teu ser. Não podes querer ligá-la ou te tornares surdo a ela, como se manipulasses um aparelho qualquer. Não te preocupes com o significado que não entendes: o camponês simples nada sabe de partituras e se deleita com a boa música; os pássaros não sabem das notas e cantam maravilhas. Por acaso precisas saber dos segredos da flor na elaboração de seu perfume para apreciá-lo? Precisas aprovar na prancheta o rascunho dos vales e montanhas para que te emociones com a paisagem?

Abandona a sede das rédeas – jamais controlarás o Uno, o Infinito. Desiste de tentar equacionar o já estabelecido e perfeito. Tuas réguas não cabem no que não tem medidas, teu tempo é tolice perante a eternidade.

Entrega-te à corrente que pulsa em ti e em todos os seres; aprecia a perfeição dos encaixes, ainda que não apreendas o sentido da obra. Se insistes em dividir a música em notas, perderás o concerto: se lês letras e não as palavras e frases que formam, perderás o sentido do livro.

Blasfemar contra a chuva é não saber do sol que a produz. Quereres o sol sem a consequente chuva é, no mínimo, insensatez.

Tu sentes muito mais que imaginas. Tens na menor partícula de teu ser a impressão do teu Criador. Reconhece em ti a Sua maestria que não está em teus olhos, tua boca ou em teu coração, porque não és um quebra-cabeça montado com diferentes blocos. Nada é mais belo ou menos importante, tu te compões numa obra única. Tu não és teu corpo, tua mente, teu espírito: és parte do Todo, totalmente ligado e sintonizado com tudo o que te cerca.

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A força interior é aquela que vem do seu mais profundo centro gerador de energia. É inesgotável, eterna e pode ser acessada a qualquer instante, em qualquer lugar. Quando tiveres dúvida, consulta-a: quando sentires medo, nela busca refúgio; quando te preocupares, sossega tua mente nas águas sempre serenas deste lago infinito.

Como podes fazê-lo? É tão simples como respirares. Recolhe-te por alguns instantes, sente a vibração maior em ti e terás todas as respostas que buscas. Não interfiras com tua personalidade ou tuas intenções. Deixa-te guiar por essa mão experiente e carinhosa que nunca te faltará.

É da ponta do penhasco que se avista a mais bela paisagem. Para alguns pode ser apenas o fim do caminho, para outros um sítio de perigo e aflições. Quando lá estiveres, senta e calmamente contempla o horizonte que de descortina à tua frente; é o princípio, não o fim.

O que te é trazido pelo destino são como sementes sopradas pelo vento. Germinarão na hora certa, se estiveres pronto e apto. Mantém teu jardim limpo e receptivo, rega tuas idéias com a força do otimismo e da confiança em ti, e o que for adequado crescerá viçoso e em breve te dará os frutos. Deus não semeia plantas nocivas ou daninhas: os sentimentos com que adubas tuas terras é que podem alterar a disposição das sementes que em ti foram lançadas.

Se queres que teu vizinho ame e respeite teus canteiros, deves demonstrar carinho e seriedade na forma com que os trata e protege. Se te queres valorizado e respeitado em determinado setor, age sempre com persistência e confiança naquele sentido: demonstra que te amas e respeitas através daquele trabalho e será este o sentimento que despertarás em teus irmãos.

Não esqueças que neste teu mundo as coisas vêm através dos outros. Ajuda teu próximo sempre e da forma que estiver ao teu alcance, imediata e desinteressadamente: aí terás o retorno que às vezes nem sentes que buscas, ou jamais esperarias encontrar naquela fonte; mas este retorno não é o teu fim, como não tem fim este processo.
És a resposta para uns, o meio para outros, o início para alguns. E sois todos assim.

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Silêncio.

Silêncio na alma, na mente, nas palavras.

Quietude imperturbável como a superfície espelhada do lago.

Imobilidade do frágil galho na ausência da brisa.

Unidade do céu sem nuvens.

Silêncio.

Não desperdiceis vossas energias em palavras tolas, vãs ou desnecessárias – menos ainda em frases danosas, iradas, negativas.

Silêncio nos gestos, comedimento nos atos.

Evitais o excesso tendo como exemplo a Natureza, onde tudo está disposto na correta medida.

Silêncio em vossos caminhos.

Evitais o burburinho inconseqüente da vida agitada e frívola, da busca frenética mas improdutiva, da tensão que tenta compensar a falta de conteúdo.

Se a semente não cessasse de se mover, jamais germinaria; se os pássaros não se aquietassem em seus ninhos, dos ovos não nasceriam novos indivíduos, e a espécie em pouco se extinguira.

Atentai para o movimento dos rios, sempre incessante, mas mesma direção, para o mesmo objetivo. Podeis imaginar um rio que mudasse o seu curso ou fluxo da corrente a cada momento? Nele não haveria vida, e assim também morreria.

Aquietai-vos no aconchego de vossa Luz interior, que pode poupar-vos de inúmeras alternativas infrutíferas e desapontamentos desnecessários. Medi cada palavra, gesto e pensamento com a parcimônia com que se divide o pão entre os necessitados nas estações de penúria. Contai vossos passos para que não dissipeis vossas energias em danças tolas e aflitivas. Selecionai vossos objetivos com rigor e discrição, para que vossas forças sejam canalizadas com seu potencial máximo na consecução de poucas e valiosas tarefas.

Uma coisas, porém, não deveis poupar: o vosso amor. Dai-o a todos que vos procurarem, carentes ou não, conscientes ou não.

Não poupeis o sorriso, a palavra amiga e o gesto que conforta vossos irmãos, porque assim fazendo, recebereis do Universo energias multiplicadas.

Vós, vossos irmãos e o Universo sois uma só essência. As separações são fictícias e enganosas. O que fazeis a vossos irmãos estais na verdade fazendo a vós mesmos, e vos tornando responsáveis pelas consequências destes atos. Vosso corpo e espírito não vos pertencem, assim como tudo o que existe: são manifestações de Energia Única assumindo diferentes modelos e formatos, de modo a garantir o equilíbrio e a dinâmica de todo o sistema.

Assim como a vossa mão esquerda sofreria se amputasse vossa mão direita, da mesma forma o ato impensado e destrutivo conta vossos irmãos ou a Natureza manifestar-se-á em vosso corpo e espírito no mesmo instante. Porque sois Um, e Um com Aquele que é Uno, compreendei o Todo e não as partes, porque o Todo é indivisível. Tanto faz agirdes com ou contra vossa imagem refletida no espelho ou vos dirigirdes ao irmão ao lado.

Refletí sobre a vossa Unidade e procurai sintonizar as vossas vibrações na frequência original. Conhecereis, então, a perfeição com que se concebeu o Universo do qual sois uma micro-representação – mas contendo toda a Essência do Criador.

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Boa noite, meu filho. É com pesar que te vejo nesse estado de confusão, pelos acontecimentos que te couberam nos últimos tempos. Não tens saída, senão vivê-los. Haverá alegria maior do que seguir os desígnios de Deus? Por que não te abandonas nas mãos Daquele que só quer o teu bem? Não, em vez disso teimas em reinterpretar as situações à luz de tua pequenina razão, e te equivocas a cada passo.

Não julgues, meu filho: tens a tendência de torcer os fatos para que caibam em teus padrões. Os valores de Deus são infinitamente maiores e mais simples. Observa com que perfeição as coisas se sucedem na Natureza, sem desperdício, sem tumulto. Os animais, as aves, os peixes não questionam os seus ciclos, não se revoltam porque não há a pretensão de uma personalidade que se julgue com direitos, querendo que o Universo se dobre a seus pés.

Não, meu filho, sê como a semente que obedece a ordem silenciosa e dispõe seus ramos no tempo certo. Sê como os animais que se servem quando os seus instintos lhe orientam. Observa como os peixes voltam a seus locais de desova, empreendendo às vezes enormes esforços para atender ao equilíbrio projetado.

Deixa fluir para dentro e de dentro de ti essa energia pura, cristalina, fundamental, que te anima assim como a todas as coisas que existem. Dentro de ti estão a razão, a força, a certeza, o dom de agir de acordo com a Ordem Universal.

Escuta o silêncio de tua voz interna que sabe o melhor para ti. Deixa fluir de teu ser a bondade inerente a todos os homens, e com ela cobre tantos quanto puderes. Paira acima do julgamento, do perdão, da mácula e da tristeza. Esse tempo já se foi, liberta-te agora dos apegos que te tolhes e retardam o teu caminhar.

Não vivas de planos, de sonhos, de expectativas. Mais que a esperança, tens a certeza dos passos que te guiam e acompanham. Não peças provas se as tem dentro de ti; não queiras mais se tens tudo, tens o Bem maior que se pode conceber: tens a vida, a perfeição do teu Criador, tens a força infinita da Sua vontade.

Acalma teus anseios, tira dos ombros a carga inútil dos desejos e olha sempre para o alto, para aonde queres chegar. Teu momento é agora, não te percas mais. Sê teu amigo, pois só assim poderás estender a mão aos demais. Tua luz iluminará as trevas mais densas, e no silêncio de teu coração ouvirás o cântico dos anjos.

Comunga com a Natureza numa cerimônia simples e silenciosa, e teus irmãos farão contigo a corrente de que necessitas para crescer. Ouve a tua voz e não te ponhas a falar futilidades que te impedem de te ouvires. Quando nada mais quiseres, tudo terás: quanto nada mais disseres, escutarás a Verdade.

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Sentes a claridade da luz mesmo estando com os olhos fechados. Sentes a presença de Deus em teu coração, ainda que te mantenhas fechado às Suas palavras.

O passo que te orienta qual pegada na areia foi feita antes de ti, para ti. Podes dele discordar, se te apraz. Podes optar por trilhares outros caminhos, e chegarás ao mesmo destino. Talvez te custe mais tempo, talvez te exija mais esforço, mas é tua a decisão.

Há todo o sentido na raiz aprofundar-se no solo, enquanto os galhos e folhas procuram o sol. Querias o inverso? Terias uma árvores morta em pouco tempo. Os galhos não discordam da raiz, esta não os censura. Realizam seu trabalho instintivamente. O objetivo do galho não é o calor do sol, a busca da raiz não é pelo refrigério da terra. Ambos trabalham pela frutificação da árvores, pela sua continuidade. Se te pagas nos detalhes, podes ver no esforço dos ramos somente a sua sobrevivência – é o mesmo nas raízes. Se vires o conjunto, sentirás o esforço comum por um fim maior: a solidez da árvore feita em flores e frutos.

Se te divides e assim te analisas, serás como os sábios e o elefante: não te dominarás, serás um amontoado de pedras. Sê por inteiro, eis o segredo. Quereres consertar uma peça, aparar uma aresta, eliminar um problema, é não ter a noção do todo. Quando mexes num ponto, desmantelas outra linha, pois o todo é interligado. Somente quando há harmonia na concepção global é que cada peça exibirá a perfeição do equilíbrio. É inútil que os busques em apenas um ponto em um dado momento: é como decidires ser bom em um determinado dia da semana ou amar determinada pessoa, e não outras. São jogos tolos que só perdem tempo. É como não pronunciares uma dada palavra, querendo deste modo evitar o efeito do seu significado.

Abre de uma vez a visão à Luz Maior e deixa que ela ilumine todo o teu interior. Não poupes teus cantos ou guardados. À luz da razão divina verás o real conteúdo do que te rodeia. Aquieta tua mente do burburinho irritante do julgamento dos homens, dos valores viciados e viciosos. Não cedas ao primeiro impulso nem os rotules de intuição ou orientação. A verdadeira inspiração te virá quando sossegares na mente e grasnar de tuas vontades.

Como um animal programado em laboratório, carregas comportamentos distantes daqueles que a Natureza ensina. Tens, porém, os verdadeiros códigos em cada átomo do teu ser, assim como tudo o que existe. Neste momento de reflexão deves abrir teus ouvidos à verdadeira canção universal e fixar teus olhos na luz que emana de cada ser da Criação. Não busques diferenças, descobre a Unidade; não queiras o particular, partilha o Bem comum. Se te detiveres a viver um instante de cada vez, descobrirás o verdadeira sentido do tempo, e tuas inquietações desaparecerão.

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Se os sonhos fossem resultado de uma atividade randômica do cérebro, terias imagens desconexas, sem sentido ou sequência. No entanto, vivencias situações com efeitos perfeitos, com princípio, meio e fim.

Te parecem absurdas as experiências? Talvez julgasses tão improváveis determinadas vivências por que passas no que chamas de vida real.

Querer controlar os sonhos é um ideal humano que se perde no tempo. Entretanto, é como quereres comandar as forças da Natureza ou os ciclos ou estações. Não tens ainda preparo para tal. O auto-domínio necessário para que percebas outras dimensões requer uma força cuja intensidade mal podes entender.

Se pouco controlas nesta tua vida, como quereres dominar as rédeas de universos paralelos, em que te defrontas com tuas projeções e fantasias reprimidas, teus medos ocultos, teus desejos velados? Para que não te destruam neste teu mundo, trancaste-os no porão de teu subconsciente e mantém-nos acorrentados com a tua vigilância. No sono, porém, abres a guarda e teus monstros cativos se evadem livremente.

Queres controlá-los? Vence-os em teu período de vigília, doma-os enquanto estás desperto e atento, e então poderás ler o significado nos estranhos roteiros do teu sonhar.

Estás certo: preciosas lições te são passadas todas as noites, das quais conscientemente pouco ou nada aproveitas. Nem por isso te são menos essenciais – estes momentos de liberdade mantêm sob controle tuas angústias e temores, ou do contrário cairias sob a pressão de teus fantasmas.

As tuas noites são a consequência dos teus dias. Se te controlas, se manténs o equilíbrio e a harmonia, teu sonho virá manso e agradável, mas nunca com um roteiro pré-estabelecido. Podes ter a interferência de outras forças que te ajudem na condução de um problema: faz-te merecedor e apto, confia nelas e entrega-te de coração leve e tranqüilo.

Respeita os limites de teu corpo e mantém a pureza e a sintonia com vibrações elevadas e, pouco a pouco, penetrarás neste espaço que hoje te fascina.

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O labirinto é indecifrável quando te encontras vagando entre suas paredes. Se vês do alto, os caminhos que levam à liberdade são claros, e é difícil entender como aqueles que vagam de corredor em corredor não conseguem perceber a saída. Queres resolver teus problemas? Sai deles, afasta-te e analisa-os friamente. Imagina tratar-se de outra pessoa que não tu. Se te parece complicado, tenta: verás surpreso com que facilidade consegues fazê-lo.

A hélice move o barco porque gira sempre no mesmo sentido. Se concentras tua atenção na realização de um objetivo, irás conseguí-lo, sem dúvida; mas se te deténs aqui e ali a contemplar borboletas, jamais chegarás a teu destino.

Se tens um botão de rosa e o admiras, ficarás impressionado com a sua beleza: observarás todos os detalhes da sua conformação, textura, a sua fragrância, os matizes de sua coloração; mas se tens nas mãos um ramalhete com dezenas de botões, ou se estás em uma áreas de cultivo com milhares deles, nenhum chamará tua atenção em especial. Procura teu botão exclusivo; sê um botão exclusivo.

Quando sentires vontade de agir de determinada forma, vai ao cerne do que te move naquela direção e avalia teu real motivo. Se não o fizeres, podes estar perseguindo um efeito e não sua causa, e assim perdendo o teu rumo.

A água não tem forma e adquire todos os contornos; desafia o deserto e brota em oásis; é líquida e formada por gases; sobre aos céus e desce em chuva; azul na imensidão do mar, transparente quando a apanhas em cuia nas tuas mãos – e nesta transparência guarda enorme quantidade de substâncias que alimentam o mundo. Plácida ou em movimento, tépida, sempre refrescante, em sua fragilidade aparente corta rochedos e cava o ventre da terra. Tu és água, teu maior componente. Se tens esta força incontida em ti, o que te poderá deter? Aprende com sua maleabilidade, transparência, tenacidade, perenidade: és tudo isso.

Se caminhas por uma estrada, é possível que encontres alguém que te dê lugar em seu meio de transporte e assim encurte a tua jornada. Se andas no meio de bosques e cerrados, ou ainda se te quedas sentado no meio do campo, quem te poderá ajudar? O auxílio existe, é possível e permitido, desde que te ponhas em marcha em uma determinada direção, com firmeza. A decisão de seguires, porém, só cabe a ti.

Aquele que conhece a unidade da imagem consegue juntar as peças de um quebra-cabeças com maior rapidez e firmeza. Se não souber da figura a ser formada, pode perder seus dias em tentativas vãs e frustrantes.

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Nada é impossível. Com fé, determinação e honestidade poderás chegar a cumes impensáveis. A conquista da montanha, sem outros motivos, não passa de brincadeira inconseqüente. Todavia, ainda assim poderás dominá-la. Se te aprouvesse, porém, um outro alvo que melhor contribuísse para a tua evolução, tuas energias não seriam desperdiçadas.

Não te leves tão a sério. A vida deve ser alegre, deves sentir-te leve e descontraído em todos os instantes. Não faças dos teus dias um apostolado medieval e severo, que de nada te valerá. O que se conquista com lágrimas vem mais depressa com o sorriso. A luta é árdua, mas mesmo nos campos de batalha há flores.

A gaiola mais bela ainda será prisão para o pássaro cativo. A gaiola é a tua personalidade. Não a uses como adorno, e sim como algo necessário ao desenvolvimento de tuas potencialidades. Qual pássaro perderia seu tempo enfeitando as barras que o cerceiam?

Se teu objetivo é atravessares o rio, não te pegues admirando e adornando a canoa.Toma-a e chega à outra margem – ou pretendias carregá-la nas costas ao alcançar o lado oposto? A canoa é um meio, não um fim. Tua personalidade é apenas a canoa que te possibilita cruzar as águas. Tolera teus erros, entende teus limites, domina as nuances que te caracterizam como o carpinteiro domina a ferramenta: respeita a serra, reverencia a árvore e ama a mesa, fruto do trabalho e dedicação.

Há duas formas de sentir a vida: deixando-se penetrar por energias sutis que nos circundam – o que exige um estágio espiritual avançado – ou procurar decifrar os sinais que nos são trazidos pelo tempo. Caminhas em direção à primeira, mas ainda não estás equipado para tal. Portanto, está atento a tudo o que ocorre à tua volta. Não desprezes um sinal por creres já tê-lo visto ou vivenciado. Aqui, neste momento, ele é único. Quando em dúvida, sente o teu coração. Desta forma, não há possibilidade de erro.

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A chaga da dor esfria o amor fraterno.

Deves ajudar o próximo mesmo quando a ti faltam forças para caminhar.

Não te escondas atrás do teu biombo de incertezas e tolices para que não vejas dores maiores que as tuas. O que julgas ser o limite de tolerância pode nada representar para aquele que nada mais tem a perder. Podes querer sustentar os relativos, é verdade, mas para que teus referenciais cessem de fazer sentido basta que deixer de ocupar o seu centro.

Assim, teus valoes mudam com o ângulo, a posição e o tempo. Como respeitar sombras que se movem com a dança das chamas?

A mão se estende para o afago, a doação ou a agressão. Podes escolher o caminho que quiseres, desde que não te leves tão a sério. Já descobriste a insensatez das louvações e buscas desenfreadas, mas não te apercebeste do valor do desprendimento e, a meio caminho, te ligas mais ao que deixaste que ao teu destino.

Procura reconhecer teu novo relacionamento com o que te cerca, conscientiza-te da tua liberdade. Não te ponhas a buscar lastros com medo de te esvaziares: só assim serás pleno.

Como o patriota renega a bota dos invasores, dá as costas ao vento fútil dos apegos doentios. Nada tens que não te seja o essencial. Não camufles este com os adornos baratos das conquistas medíocres que tanto encantam a alguns: pensarios em vestir estrelas e ocultar seu brilho, que é a sua razão?

Mentaliza o Bem, procura em teus instantes e te perceberás em um novo padrão de sentimentos.

Que a vida sonhada não seja a glória volátil de um sorriso vazio de intenção.

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A tela é a vida. Nela se põem as cores que formarão o nosso quadro. Se jogadas ao léo, o resultado será uma imagem confusa e sem sentido. Se projetares antecipadamente, formarão a imagem pretendida. As tintas são as qualidades que te permitem agradecer a Ele pelo dom de criar. O pincel só terá serventia quando a mão que o empunha sabe com firmeza o traço pretendido; senão, é um mero instrumento do acaso.

Não enxergues linhas pré-desenhadas que não existem. O desenho é teu livre arbítrio. Cada pincelada, porém, condicionará as demais – os traços não são eternos. Eles se somam, mas não se anulam. Não pretendas um desenho além dos teus limites.

Chegada a hora, não se pode furtar ao dever do desenho, da pintura. Ele deve vir de dentro de ti, não se pode copiá-lo de outra forma, assim como não se pode viver a vida alheia.

Abre teu coração e põe nesse quadro a tua alma e sensibilidade. Não tenhas pressa em acabá-lo, pois só saberás de sua conclusão quando receberes o sinal.

Não penses em planejar a cena antecipadamente. Sabe apenas transmitir, a cada toque, a tua intenção. Os detalhes formarão o todo e, embora imprevisíveis, podem ser acomodados no teu plano maior. Sabe que outros mãos te guiam, outros braços te suportam. Não te esqueças jamais d’Ele que te criou. Tem fé e nada te abalará.

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Se o teu caminho chegar a uma bifurcação, deves decidir a trilha à esquerda ou à direita. Tens o teu senso de direção e sabes onde precisas chegar. Sentar-te à beira da estrada por medo de tomar o rumo errado de nada te adiantará. Se queres consultar sinais ou algum experiente, volta-te para ti mesmo.

Se no passado tomaste a decisão equivocada, não seja este fato razão para que te acomodes agora. Este é outro momento, são outros caminhos. Optares pela trilha que te parece mais suave tampouco será garantia de que levará a bom termo. O que te deixará sem paz contigo? A sensação do dever cumprido, o empenho com toda a dedicação.

Algumas experiências passadas, porém, devem te prevenir, seja qual for o caminho escolhido. Já conheceste apoios traiçoeiros, beiraste abismos perigosos e te feriste em quedas e espinhos. Cuida, pois, para que não repitas deslizes.

Está sempre em marcha. Não te queixes das curvas, dos trechos íngremes e dos riscos. Este é o teu caminho, como o de teu irmão. Não te ponhas a comparar tua trilha com a daqueloutro, pois não sabes o que ele já superou e o que lhe reserva a próxima curva.

Podes julgar que cada esforço te consome energias e te deixa mais cansado. Não seria mais verdadeiro constatar que te torna mais forte, ágil e seguro?

Precisa apenas de uma bússola e a tens em ti. O alimento necessário te virá pelo caminho, assim como a água límpida que te revigorará. Não carregues fardos desnecessários – isto não é prudência, é desatino.

Lembra-te que a cada passo adiante estás mais perto de teu porto de chegada.

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