sexta-feira, 2 de julho de 2004

O "jeitinho" brasileiro

O "jeitinho brasileiro", como foi dito numa reportagem na TV, nada mais é do que uma quebra de normas (leis) em benefício próprio; assim como a atitude de políticos quando barganham seus votos para atenderem "interesses" em troca de "favores". Será que é corrupção? Se questionados sobre as atitudes dos políticos, a maioria esmagadora dos brasileiros vai crucificá-los; ao mesmo tempo, se questionados se algum dia fizeram de uso do tal "jeitinho" para seu próprio benefício, certamente vão responder que sim. E agora, José? Culpa-se os políticos, mas quando nós somos os culpados, pode?
Em Porto Alegre, comerciantes legalmente estabelecidos, aqueles que pagam seus tributos e contratam seus funcionarios legalmente seguindo a "cartilha legal" ainda que com toda dificuldade, fizeram uma manifestação contra o comércio dos ambulantes - os camelôs que se espalham por todas as vias públicas, calçadas e ruas daquela capital. Eles pedem o fim deste comércio, ou no mínimo sua legalização pois alegam que estes não pagam impostos, não cumprem a "cartilha", e pior, suspeita-se que vendam produtos falsificados, fazendo concorrência desleal com os produtos originais. Demorou, mas finalmente alguém começou a gritar contra essa barbaridade que é a venda de produtos falsificados e o comércio informal.
O que acontece no Brasil é que o país é vítima de sua cultura, e colhe hoje os frutos dessa mesma cultura. A cultura do "jeitinho"! O povo brasileiro sempre quer levar vantagem em tudo. A culpa não é somente do Gerson. Apesar de levar a culpa, ele foi também vítima de algum publicitário que quis se aproveitar dessa cultura para incentivar esse costume egoísta e mal educado. E agora não há remédio que reverta essa situação. Ou há?
Se você acha que errada a atitude dos políticos eleitos que fazem festa com nosso dinheiro; se você acha errado a corrupção presente no país; se você acha errado atitudes como a de Waldomiros e Ferreirinhas; você tem que fazer a sua parte. Como? Partindo de atitudes simples mas eficazes: a educação dentro de casa, e atitudes corretas e concretas. Obedeça as leis e decisões do seu condomínio, mesmo que dê mais trabalho para você. Não compre um CD/DVD falsificado, mesmo que seja mais barato - esse barato acabará por sair mais caro. Se na rua há uma placa de 50km/h, ande na velocidade estabelecida, mesmo que isso lhe custe alguns segundos a mais na chegada ao seu destino. Se você foi pego numa infração, não dê um "jeitinho": pague a multa, mesmo que ela seja cara - afinal, aceite o fato que você errou. Dando um "jeitinho", você está estimulando atitudes negativas e erradas.
O país não vai mudar esse mal costume com decretos ou grandes atitudes governamentais: esses costumes só serão mudados no momento que eu e você quisermos e tivermos atitudes concretas para tal mudança. Comece a mudar nosso país hoje mesmo: ensine seu filho a respeitar as leis dando-lhe o exemplo e explicando-lhe para ele porque as leis devem ser respeitadas. Não diga para ele colocar o cinto de segurança "se não o guarda vê": diga para ele colocar o cinto porque é para a segurança dele mesmo. Exija a nota fiscal em todas as suas compras: não para o comerciante pagar mais imposto, mas porque a nota fiscal é sua garantia de cidadania. Seja honesto e correto com seus funcionários, pagando-lhes o que lhes é direito e agindo conforme a lei.
Assim, tendo atitudes concretas em nosso dia-a-dia, criaremos o hábito de ser corretos, e quem sabe, mudaremos a cultura do "jeitinho" para a cultura do "certinho". No Brasil, fala-se tanto do respeito aos cidadãos em países do "primeiro mundo", mas esses povos respeitam suas leis todos os dias, partindo de pequenas atitudes de não jogar um papel de bala no chão nem um cigarro pela janela!!!

Novamente sobre as cotas III

Respeito a opinião e posso até concordar com alguns dos argumentos que a reitora da UEL - Lygia Pupatto - comenta em sua carta na edição de 22/06 da Folha de Londrina. O que faltou falar e discutir é a realidade dos fatos: de que adianta criar cotas, favorecendo uma classe (seja ela qual for), e não ir direto à questão: a falência do Ensino Público. Os alunos das escolas públicas não são menos inteligentes que os alunos das escolas particulares. A diferença esta na qualidade da formação que cada um recebeu. Se assim não fosse, o sucesso das escolas públicas seria muito maior que o das particulares, já que as públicas são em maior número e abrigam um número muito superior de alunos. Criar cotas para alunos oriúndos de escolas públicas é humilhá-los, dizendo às claras que eles são menos competentes (intelectualmente falando) do que aqueles oriúndos das escolas particulares, por isso precisam de um "empurrãozinho". Se a energia gasta nessa discussão fosse direcionada para discutirmos e proporcionarmos uma escola pública de melhor qualidade (como era há 40 anos atrás), o resultado seria muito mais promissor para o futuro do país. E porque prefere-se a opção das cotas ao invés de se discurtimos profundamente a melhora no ensino público? Porque reformar a escola pública é um trabalho "homérico", com resultados demorados e efeitos a longo prazo, embora muito mais eficientes. E o brasileiro é imediatista: quer resultados agora, custe o que custar. Investir no futuro é demorado e difícil e não rende dividendos políticos! Pior do que cotas para alunos oriúndos do Ensino Público são as cotas para os negros, o que caracteriza uma dupla discriminação: discriminar tal indivíduo por vir de uma escola pública, por isso deve ser favorecido e discriminá-lo novamente pela cor da sua pele, por isso também tem direito a mais um empurrãozinho!!! E agrava mais utilizar-se de argumentos históricos para justificar essa atitude discriminatória! Além disso tudo, teríamos que analisar outra questão de suma importância: discute-se o acesso a Universidade, fazendo com que esse seja o único caminho para se conseguir uma carreira e um emprego! Engana-se quem pensa assim. E o país deveria ver essa questão com olhos técnicos e não políticos. O país precisa muito mais de um técnico bem formado do que um doutor mal informado!!! E se as cotas forem impostas aqui na UEL, restará ainda uma questão a ser debatida: Como farão para definir quem é negro e terá direito às cotas? Submeterão tais candidatos a humilhação de serem fechados numa sala para serem fotografados, um a um, e suas fotos serem analisadas por uma comissão de "entendidos", como foi feito na UnB?
(Carta publicada na Folha de Londrina - 23/06/2004)