sexta-feira, 2 de julho de 2004

Novamente sobre as cotas III

Respeito a opinião e posso até concordar com alguns dos argumentos que a reitora da UEL - Lygia Pupatto - comenta em sua carta na edição de 22/06 da Folha de Londrina. O que faltou falar e discutir é a realidade dos fatos: de que adianta criar cotas, favorecendo uma classe (seja ela qual for), e não ir direto à questão: a falência do Ensino Público. Os alunos das escolas públicas não são menos inteligentes que os alunos das escolas particulares. A diferença esta na qualidade da formação que cada um recebeu. Se assim não fosse, o sucesso das escolas públicas seria muito maior que o das particulares, já que as públicas são em maior número e abrigam um número muito superior de alunos. Criar cotas para alunos oriúndos de escolas públicas é humilhá-los, dizendo às claras que eles são menos competentes (intelectualmente falando) do que aqueles oriúndos das escolas particulares, por isso precisam de um "empurrãozinho". Se a energia gasta nessa discussão fosse direcionada para discutirmos e proporcionarmos uma escola pública de melhor qualidade (como era há 40 anos atrás), o resultado seria muito mais promissor para o futuro do país. E porque prefere-se a opção das cotas ao invés de se discurtimos profundamente a melhora no ensino público? Porque reformar a escola pública é um trabalho "homérico", com resultados demorados e efeitos a longo prazo, embora muito mais eficientes. E o brasileiro é imediatista: quer resultados agora, custe o que custar. Investir no futuro é demorado e difícil e não rende dividendos políticos! Pior do que cotas para alunos oriúndos do Ensino Público são as cotas para os negros, o que caracteriza uma dupla discriminação: discriminar tal indivíduo por vir de uma escola pública, por isso deve ser favorecido e discriminá-lo novamente pela cor da sua pele, por isso também tem direito a mais um empurrãozinho!!! E agrava mais utilizar-se de argumentos históricos para justificar essa atitude discriminatória! Além disso tudo, teríamos que analisar outra questão de suma importância: discute-se o acesso a Universidade, fazendo com que esse seja o único caminho para se conseguir uma carreira e um emprego! Engana-se quem pensa assim. E o país deveria ver essa questão com olhos técnicos e não políticos. O país precisa muito mais de um técnico bem formado do que um doutor mal informado!!! E se as cotas forem impostas aqui na UEL, restará ainda uma questão a ser debatida: Como farão para definir quem é negro e terá direito às cotas? Submeterão tais candidatos a humilhação de serem fechados numa sala para serem fotografados, um a um, e suas fotos serem analisadas por uma comissão de "entendidos", como foi feito na UnB?
(Carta publicada na Folha de Londrina - 23/06/2004)

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