quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Se você quiser que alguém se interesse por você...

Não sinta dor pelo passado nem medo pelo futuro. Mantenha a sua mente no Presente. Experimente o dia de hoje, completamente, e no final do dia, quando voltar para casa, e encontrar a pessoa que tanto ama, e essa te perguntar, "Como foi o seu dia?", conte a ela sobre a história que viveu. Porque todo dia, você precisa viver uma história, porque é a história, no final do dia, que vai mantê-lo vivo.

Querida(o) Amiga(o),

Quatro pneus furados em apenas dois dias me levaram a uma borracharia perto de casa. O Ford EcoEsport, afinal, é realmente um carro que aguenta bem os trancos e barrancos da cidade grande e pequena. Depois de quase dois anos de uso, eu finalmente gastei alguns reais com a manutenção do carro. Os momentos na borracharia me fizeram recordar de um amigo, um velho amigo.

Anos atrás, eu tive um amigo que estava em dúvida sobre comprar um carro novo da Ford ou Volkswagen. Depois de visitar concessionárias calibradas de ambas as marcas, ele tomou uma decisão. Ele ligou para o vendedor da concessionária Ford e disse, "Muito Obrigado pela sua ajuda, mas eu escolhi comprar o Volkswagen". Duas semanas depois, enquanto dirigia o seu carro novo, o meu amigo recebeu uma ligação. "Olá, Como Vai? Aqui é o vendedor que te atendeu. Como anda o Volkswagen que você comprou?", "Maravilhoso", respondeu o meu amigo, "Só tem um probleminha, o cinto de segurança do banco do passageiro está com um algum defeito, ele não quer fechar", "Ok, deixa eu ver o que eu posso fazer para matar esse problema e já retorno a ligação".

Momentos depois, o meu amigo recebe uma nova ligação, "Olá, sou eu de novo, se você puder trazer o carro amanhã de manhã até a concessionária, a assistência técnica vai consertar o que tem que ser consertado". "Legal! Eu estarei na concessionária Volkswagen amanhã na primeira hora", disse o meu amigo, "Ops! Senhor, aqui é o vendedor da Ford". No dia seguinte, o meu amigo levou o carro da Volkswagen na concessionária Ford e teve o seu problema resolvido em apenas uma hora.

Meses depois, o mesmo amigo, para celebrar 25 anos de casado e a formatura do filho, teve a idéia de comprar um carro novo para a mulher e outro para o filho, adivinha onde ele foi comprar um carro novo para a mulher e para o filho?
Pergunta: o que você está fazendo que é EXTRAORDINÁRIO o suficiente para estimular as pessoas a contar histórias sobre você, sobre a sua empresa, sobre o que você faz?

Eu não me lembro do preço da diária do hotel em que eu fiquei em Ilha Bela seis meses atrás, mas eu me lembro muito bem do cheiro do bolo de fubá que eu comi no café-da-manhã, o pôr-do-sol que eu assisti no final do dia, e da casquinha de siri que eu devorei todos os dias.

O Ser Humano não guarda fatos. O Ser Humano se emociona com Histórias. No papel, para um leigo como meu, Ford e Volkswagen são idênticas. Ambas faturam bilhões, ambas são focadas em qualidade, ambas estão no país há anos, ambas são confiáveis, ambas são abrasileiradas, ambas têm dezenas de concessionárias e dezenas de funcionários com MBA. Ambas têm produtos parecidos e prometem conquistar o mundo e crescer 20% esse ano. O que vai me fazer escolher entre uma ou outra? A História que eu ouvir a respeito delas. A História que elas contarem sobre si mesmas. Fatos, dados, estatísticas e informação não valem nada se não estiverem amarrrados a uma boa história.

Por exemplo, a qual empresa você vai prestar atenção, àquela que fala que foi fundada em 1954, possui hoje 13 fábricas espalhadas pelo mundo, 75 mil funcionários e 26 prêmios internacionais de qualidade, ou, àquela que fala que foi fundada em 1954 por dois jovens imigrantes italianos, que com 100 mil-réis acumulados durante 5 anos de trabalho rural, compraram a primeira máquina de moer, e 45 anos depois, superadas duas crises, uma tentativa de compra da empresa pelo concorrente, e com muito trabalho, inovação, e risco, transformou-se em residência para 75 mil Seres Humanos?

Empresas por todo o Brasil, penduram em suas paredes quadros de aço inox carregados com os "Valores" e a "Missão" da empresa, gastam milhares de reais para ensinar "liderança" para os chefes, mas se esquecem do principal: VALORIZAR, CONTAR, e UTILIZAR as HISTÓRIAS DA EMPRESA - e NÃO DE UM GRINGO DA GRINGOLÂNDIA - como FUNDAÇÃO para ensinar os "Valores" e a "Missão" da empresa para quem precisa aprender.

Você quer que um funcionário do mundo da produção seja Íntegro? Conte a ele uma história sobre INTEGRIDADE na PRODUÇÃO. Você quer que um funcionário do mundo de vendas seja Inovador? Conte a ele uma história sobre INOVAÇÃO em VENDAS. Você quer que um funcionário do mundo de finanças Pense Grande? Conte a ele uma história sobre PENSAR GRANDE em FINANÇAS. Não importa o quanto você conhece sobre todos os livros de Shakespeare, ou o quanto você sabe de cor todos os salmos da Bíblia.

Todo o conhecimento do mundo não vale nada até que você experimente alguma coisa na sua vida. É preferível ser um aplicador de parte da filosofia de Hamlet, do que MAIS UM recitador da poesia de Shakespeare.

As Histórias existem porque as pessoas EXPERIMENTAM coisas.
Você existe porque você EXPERIMENTA coisas.
EXPERIMENTA um novo restaurante.
EXPERIMENTA um novo software.
EXPERIMENTA uma nova maneira de fazer reunião.
EXPERIMENTA uma nova maneira de saudar as pessoas.
EXPERIMENTA uma nova cidade.
EXPERIMENTA um novo autor que nunca leu.
EXPERIMENTA uma nova rádio que nunca escutou.
EXPERIMENTA uma nova maneira de vender.
EXPERIMENTA conhecer uma nova pessoa. Não é verdade que as melhores histórias que carregamos são as histórias que vivemos nas viagens que realizamos?

Se você quiser que eu me interesse por você, conte-me a sua História. Se você quiser que eu me emocione com o Produto da sua empresa, conte-me a história sobre o PORQUE esse é o produto da empresa, e de onde ele surgiu. Se você quiser que eu corra atrás da realização dos Objetivos da empresa, conte-me a história sobre onde podemos chegar depois que conquistarmos esses objetivos. Apenas uma em cada cem mil empresas no Brasil, contam alguma HISTÓRIA VERDADEIRA, RELEVANTE e EMPOLGANTE sobre a própria história em seus web sites.

Elas dizem que fazem isso e aquilo, prometem tanto quanto um deputado-mensalão, chegam a mostrar resultados, mas não contam como chegaram lá, muito menos como superaram as diversidades que apareceram no caminho Supere o discurso feito com fatos e frases bem feitas, roubadas de manuais sobre como-fazer. Eu não vou prestar atenção, você não vai conseguir se diferenciar, eu não vou me emocionar. PARE DE SE PREOCUPAR EM SER TEÓRICO e seja um Contador de Histórias.

A História da Nota Fiscal da sua empresa é tão emocionante quanto a vida de Albert Einstein. Só você não acha. Conte a sua História. De tudo. Para todo mundo. NADA MENOS QUE ISSO INTERESSA.

terça-feira, 11 de outubro de 2005

Desarmamento: Poeira nos olhos de um povo crédulo

Olá pessoal, sou Tiba, psiquiatra, psicodramatista e educador.
Mais do que com armas, é com conhecimento que se pode fazer uma reviravolta neste país, que sobrevive apesar da falta de ética de parte grande dos nossos governantes.
Não é possível que o povo brasileiro seja mobilizado a ir às urnas neste referendo (cujo sentido é ainda discutível) no mesmo momento político em aparecem comprovados e vergonhosos "mensalões" e "mensalinhos", demonstrativos de que boa parte dos políticos brasileiros visa mais o seu próprio bem do que o bom cumprimento, com honra, ética e sensatez, dos cargos para os quais foram eleitos.
Me revolta um governo que promove um referendo com uma pergunta capciosa, fingindo querer ouvir o povo. Por que não perguntar se o brasileiro gostaria de ver sua mulher e filhos estuprados e sua casa arrebentada, porque os "maus elementos" estavam armados e ele desarmado?
Qual a diferença que existe entre tais "maus elementos" que nos assaltam, armados com armas de fogo, e outros que, tendo o poder nas mãos, nos assaltam com caneta, nos tirando quase três meses de cada ano trabalhado para lhes sustentar, enquanto a nossa família praticamente passa fome?
O mal está no espírito das pessoas e não no que elas têm nas mãos. Morre-se, também, e em números assustadores, em acidentes de automóvel. Não seria o caso, também, de se fazer um referendo para proibição da venda de carros e combustíveis? Tudo depende de como se direcionaria a pergunta à população: Você é contra ou a favor de que as pessoas continuem morrendo ou matando por atropelamentos e acidentes de automóvel ? Não? Então vote a favor da proibição da comercialização de carros e combustíveis!
O que me deixa indignado neste país é a absoluta de falta de transparência das autoridades. Manobras e campanhas são realizadas para ocultar a falta de ética de nossos governantes -e nenhum país sobrevive à falta de ética, com ou sem arma de fogo...
Me preocupa, ainda, saber quem será o grande beneficiário deste gasto com o referendo. Muito mais útil e correto seria utilizar esta importante verba para a educação. Dos grandes problemas deste país, não destacamos somente a falta de estudos, cultura e educação, mas também o mau uso econômico e ético que as elites políticas fazem deste povo.
O povo brasileiro tem bom coração. É um povo tão carente, necessitado e crédulo que bastam algumas palavras bem ditas, que mexam com a sua emoção; basta que recebam chaveirinhos, camisetas e bonés, que dentro do contexto de falta de consciência política que impera seja facilmente manipulado, em detrimento de sua própria dignidade e condição de vida.
O governo, através de uma inteligente manobra de massas, mais uma vez vende ao povo a idéia que são as armas de fogo as culpadas pela violência e, numa eficiente estratégia de marketing, "mata dois coelhos com uma cajadada só": a) demonstra estar adotando providências contra a criminalidade; e b) esconde sua ineficiência e incapacidade de lidar com a situação da violência desmedida em que se encontra nosso país.
Mais que isso, o governo, afasta de si a responsabilidade e a transfere ao povo, através de uma pergunta simpática à primeira vista, pela qual já vem fazendo uma campanha oculta há muito tempo. Assim, no futuro, quando a violência e criminalidade não diminuírem, sempre restará a resposta de que a vontade do povo foi cumprida...
Com minha experiência de educador, reforço: não serão essas medidas, populistas, que farão efeito. Somente os livros, a educação a logo prazo e a ética – palavra em falta no vocabulário de nossos políticos – poderão mudar esse Brasil.

Içami Tiba (São Paulo) é terapeuta e escritor.
icami@tiba.com.br

domingo, 9 de outubro de 2005