quinta-feira, 21 de junho de 2007

Matéria publicada na Folha de Londrina, 20/06/2007:
  • Manchete na primeira página:
Vaticano divulga cartilha com orientações para os motoristas inspirada nos dez mandamentos
(http://www.bonde.com.br/folhadelondrina/) - edição de 20/06/2007
A Matéria na página 10 do jornal impresso:

Ultrapassagem perigosa é pecado
Cidade do Vaticano- A ultrapassagem de um carro de forma perigosa é pecado para a Igreja Católica, segundo as recomendações divulgadas pelo Vaticano ontem para os motoristas. A ausência de cortesia, os gestos vulgares, as blasfêmias e os insultos também figuram entre os pecados mais comuns praticados pelos motoristas, assegurou o cardeal Renato Martino ao apresentar o documento ''Orientações para a pastoral das estradas'' preparada pelo Conselho Pontifício para os Migrantes, que recorda que os católicos devem fazer o sinal da cruz antes de iniciar uma viagem. ''Os meios de transporte podem servir para promover as virtudes cristãs, entre elas a prudência, a paciência e a caridade'', afirma o Conselho, que elaborou um ''decálogo especial'' para os motoristas inspirado nos dez mandamentos.
France Presse
Na internet, encontra-se no site:
http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=22264LINKCHMdt=20070620


Enviei ao Jornal a seguinte carta, comentando a matéria:

Pastoral das Estradas
Noticiado em primeira página, em letras garrafais, a Folha de Londrina desinforma seus leitores sobre a verdade dos fatos (edição de 20/06/2007 – Direção perigosa agora é pecado – página 10). Não existe nenhuma publicação ou declaração da Igreja Católica a respeito de ser “pecado” qualquer transgressão no trânsito. O resumo desta notícia – versão verdadeira – está à disposição no site http://www.zenit.org/article-15391?l=portuguese. O documento original, em italiano, encontra-se no site do vaticano, no endereço: http://212.77.1.245/news_services/bulletin/news/20446.php?index=20446&po_date=19.06.2007&lang=po.
No dito documento, em momento algum é proposto que alguma atitude desrespeitosa ou irresponsável no trânsito seja “pecado”, como sugere tal notícia publicada na Folha. Quando o jornal dá essa interpretação, banaliza irresponsavelmente um assunto extremamente importante: a preservação da vida no trânsito.
O número assustador de mortos nas ruas e estradas preocupa todos aqueles que defendem a vida. O Vaticano propõe que a “Pastoral das Estradas” seja difundida pelas Conferências Episcopais nos países em que ela ainda não existe. Tal Pastoral propõe-se a diminuir esses sofrimentos e mortes: ela deve agir de forma educativa e orientar os envolvidos no trânsito para que defendam a vida, sejam atenciosos e responsáveis. Entre as diversas ações, foram propostos dez tópicos – análogos aos Dez Mandamentos do Senhor – que orientam para a defesa da vida acima de tudo, além de uma convivência fraternal no trânsito, pautado sempre pela cortesia, prudência, caridade, apoio, perdão e responsabilidade.
Esta Pastoral tem, como uma de suas missões, denunciar situações perigosas e injustas causadas frequentemente pelo tráfego. Além disso, a Igreja e o Estado devem unir-se para combater a violência do trânsito, sob o objetivo comum da defesa da vida.
Se todos forem responsáveis quando estiverem no trânsito, observarem rigorosamente as regras básicas de defesa da vida, muitas mortes, mutilações e sofrimentos poderão ser evitados. Não precisa ser católico para perceber isso... aliás, não precisa seguir nenhuma religião para perceber o valor da vida e o cuidado que devemos ter para preservá-la!


A Folha de Londrina não quis publicar tal carta, sob a seguinte alegação:
Caro André, a notícia publicada pela Folha da agência France Presse traz exatamente o que os demais meios de comunicação informaram a respeito dos 10 mandamentos do motorista recomendados pelo Vaticano. A própria TV Globo, com sua correspondente na Itália, deu a mesma notícia. Portanto, não vemos razão para publicação de seu artigo. Contanto com sua compreensão e atenção, Editoria de Opinião da Folha de Londrina.


O que dizer????
Oras, a FOLHA DE LONDRINA coloca-se numa posição parcial, quando não admite um comentário de uma matéria que publica. Na verdade, não aceita a crítica.
A matéria publicada pela Folha, enquanto pouco mostra o verdadeiro objetivo da divulgação feita no Vaticano, propõe uma visão debochada e extremamente superficial, sobre um assunto sério debatido e proposto por uma instituição milenar que é a Igreja Católica.

No dia seguinte (21/06/2007), a Folha de Londrina publica novamente a mesma matéria, mas desta vez re-escrita por uma jornalista local. Piorou, pois agora esta jornalista foi às ruas buscar opiniões sobre o título da matéria e não sobre o conteúdo da matéria original - aliás, conteúdo que a Folha nunca deu seu verdadeiro e correto destaque. Subentende-se que o seu objetivo é superficial; não é de discutir o cerne da questão e muito menos divulgar o documento correto e verdadeiro emitido pelo Vaticano. Vejamos abaixo essa sequência:

No caderno CIDADES, página 02 - na coluna Fala, cidadão:

Você acha que dirigir de forma perigosa é pecado?

  • ''Penso que não. Acho que no dia-a-dia é preciso se acostumar. Sou católico não praticante, e acho que não tem nada a ver. Pecado é sair de casa mal-humorado e distribuir sua raiva em todo mundo na rua.'' Antônio Valério, 54 anos, taxista.
  • ''Depende. Tem que ver o que é a dirigir perigosamente. Se põe a vida de outras pessoas em risco, como dirigir em alta velocidade, furar semáforos, eu acho que é pecado sim. Se não, é falta de respeito e irresponsabilidade.'' Dartagnan de Vitor Carvalho Silva, 22 anos, auxiliar administrativo.
  • ''Sim, porque se a pessoa dirige de forma perigosa e mata alguém está pecando. Por isso concordo com essa orientação da Igreja. Acho que hoje em dia as pessoas não respeitam muito, e com isso elas vão se conscientizar mais.''Cláudia Manella, 34 anos, secretária.
  • ''Eu acho que considerar isso pecado é uma forma de sensibilizar as pessoas, e vai contribuir para melhorar o trânsito. Se for analisar a fundo, acho que é pecado sim. A gente vê cada barbaridade no trânsito que é só por Deus mesmo.'' Ângela Grigonis, 26 anos, comerciante.

Publicado no site (http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=22881LINKCHMdt=20070621)

Mais à frente, na página 04, a seguinte reportagem, sob o título:

Direção perigosa agora é pecado

A Igreja Católica divulgou esta semana uma lista dos dez mandamentos do motorista, considerando pecado desrespeitar orientações como ter cortesia, correção e prudência, ajudar o próximo em necessidade e as famílias dos acidentados, proteger a parte mais vulnerável, ser responsável para com o próximo e promover o perdão entre culpados e vítimas. A idéia de que, além de correr o risco de levar uma multa, o motorista pode também estar cometendo um pecado ao infringir as leis de trânsito pode, a longo prazo, provocar uma mudança de comportamento nos condutores de veículos. Essa é a opinião de Eliana Aparecida Ramos Damaceno, 42 anos. Ela é vereadora em Jaguapitã, e não gosta de dirigir em Londrina, porque aqui ''as pessoas não têm muito respeito''. Para ela, a cordialidade, o respeito e a prudência no trânsito são necessários independentemente da religião da pessoa. ''Não considero a infração a esses princípios um pecado, mas uma falta de respeito com o ser humano. Carro não é arma, é um meio de transporte'', define. Já o taxista Armando de Jesus, 60 anos, acredita que esse posicionamento da Igreja Católica não deve influir muito na atitude de cada um. ''Cada um deve saber o que faz'', recomenda. Mesmo sem ser católico, Armando concorda com a atitude da igreja em relação ao assunto. ''O motorista de Londrina buzina bastante, acha melhor buzinar do que frear. É preciso ter mais paciência. Não é fácil, mas a pessoa tem que se esforçar. Eu mesmo nem ligo, já me acostumei'', afirma.

Para Ildefonso Dellaroza, 77 anos, que sempre trabalhou dirigindo e há mais de 20 anos atua como taxista no mesmo ponto, manter a calma e ter paciência no trânsito de hoje é uma missão difícil. ''Às vezes tem carro que fica fazendo cera na minha frente, o motorista não anda dentro da faixa da sua pista, fala ao celular, e isso me irrita. Acho que cada um tem seu temperamento, e eu sou meio nervoso. Queria ser mais calmo, mas já nasci com o sangue meio violado'', argumenta. Apesar desse temperamento, Dellaroza preocupa-se em manter uma boa conduta no trânsito. O taxista conta que já se envolveu em um acidente em que o outro motorista estaria errado, mas acabou pagando o conserto de ambos os carros. ''Ele ficou tão feliz que veio me mostrar o carro dele consertado. E saiu falando bem de mim. Também sempre ajudo no que posso quando vejo um acidente'', conta, mostrando que, mesmo antes de o Vaticano divulgar os dez mandamentos do motorista, já havia praticado alguns deles.

O padre Romão Martins reconhece que a correria e o stress do dia-a-dia levam muitos a descontar sua raiva no trânsito, acabando por infringir algumas regras de conduta. ''A orientação do Vaticano procede, porque qualquer atentado contra a vida é um pecado. Pecado é tudo aquilo que atenta contra a vida e prejudica as relações humanas e com Deus'', esclarece, lembrando que se omitir ao invés de ajudar também é pecar. Para Romão, além de refletir, essas orientações devem levar o motorista a preparar o espírito e o coração para enfrentar o trânsito cada vez mais conturbado das grandes cidades. ''Eu mesmo já fui multado. Não é vergonha receber uma multa, porque qualquer pessoa é passível de cometer um erro. O que não se pode é fazer disso uma regra, colocar a vida alheia em risco. Prejudicar a vida de alguém é pior, e o valor é tão alto que não tem preço''.

Adriana Ito

Reportagem Local

http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?id=22906LINKCHMdt=20070621


Novamente pergunto: O que dizer????

Veja que, desta vez, a repórter não menciona a Pastoral das Estradas e nem a preocupação do Vaticano com a divulgação e crescimento desta Pastoral como um braço da Igreja que protegerá vidas e diminuirá o sofrimento das vítimas do trânsito.

Escrevi nova carta para a Folha, que desta vez, não se dignou a responder e muito menos a publicá-la. Veja a seguir:

Prezado Editor

Agora que publicaram uma reportagem local a respeito do assunto (não é uma reportagem "comprada" de outro veículo), acredito que aceitarão meus comentários...

Segue, então, minha opinião para o Espaço Aberto, a respeito da reportagem entitulada "Direção perigosa agora é pecado".

Grato pela atenção



Pastoral das Estradas

O título de uma notícia publicada na página 04 do caderno Cidades, da edição de 21/06/2007, desvirtua o conteúdo da matéria original: a divulgação da Pastoral das Estradas pelo Vaticano, no último dia 19/06. Outros jornais, como "O Estado De São Paulo" por exemplo, noticiaram a mesma matéria com uma chamada mais objetiva "Os Dez Mandamentos do Trânsito", e uma descrição objetiva de seu conteúdo, não perdendo seu foco em nenhum momento - confira no site: http://www.estadao.com.br/ultimas/mundo/noticias/2007/jun/19/178.htm. O conteúdo dessa notícia está também à disposição no site http://www.zenit.org/article-15391?l=portuguese. O documento original, em italiano, encontra-se no site do vaticano, no endereço: http://212.77.1.245/news_services/bulletin/news/20446.php?index=20446&po_date=19.06.2007&lang=po.

As colocações do Padre Romão Martins foram muito bem vindas, já que esclarece o nobre objetivo da defesa da vida, e que qualquer ato contra a vida é uma transgressão moral: obviamente torna-se um pecado para os católicos e uma insensatez para aqueles que não são católicos ou que não acreditam em pecado!

O número assustador de mortos nas ruas e estradas preocupa todos aqueles que defendem a vida. O Vaticano propõe que a “Pastoral das Estradas” seja difundida pelas Conferências Episcopais nos países em que ela ainda não existe. Tal Pastoral propõe-se a diminuir esses sofrimentos e mortes: ela deve agir de forma educativa e orientar os envolvidos no trânsito para que defendam a vida, sejam atenciosos e responsáveis. Entre as diversas ações, foram propostos dez tópicos – análogos aos Dez Mandamentos do Senhor – que orientam para a defesa da vida acima de tudo, além de uma convivência fraternal no trânsito, pautado sempre pela cortesia, prudência, caridade, apoio, perdão e responsabilidade.

Esta Pastoral tem, como uma de suas missões, denunciar situações perigosas e injustas causadas frequentemente pelo tráfego. Além disso, a Igreja e o Estado devem unir-se para combater a violência do trânsito, sob o objetivo comum da defesa da vida.

Se todos forem responsáveis quando estiverem no trânsito, observarem rigorosamente as regras básicas de defesa da vida, muitas mortes, mutilações e sofrimentos poderão ser evitados. Não precisa ser católico para perceber isso... aliás, não precisa seguir nenhuma religião para perceber o valor da vida e o cuidado que devemos ter para preservá-la!


Mais uma vez, pergunto: O que dizer???...

Jornal de Londrina - Editorial - 19/06/2007:

"Estado e Igreja"

"Reportagem publicada na edição de domingo do JL mostra que o vereador Paulo Arildo (PSDB) tenta, através de projeto de lei, vetar a distribuição da chamada pílula do dia seguinte em serviços públicos de saúde. De acordo com a Secretaria Municipal de Saude, o medicamento é distribuido em casos extremos (como violência sexual) e ministrado mediante acompanhamento. O procedimento foi adotado em dois casos no último quadrimestre.
O tema do projeto é polêmico e delicado. Trata de um caso de saúde pública, mas que para alguns, ganha contornos religiosos, o que foge do ideal de racionalidade que rege o Estado moderno.
O problema é que o autor do projeto ignora o caráter laico do Estado brasileiro. A constituição garante a liberdade de culto e de crença, mas não adota uma religião oficial. O vereador ignora ainda que esse mesmo estado representa tanto a maioria cristã, quanto a minoria formada por integrantes de outras crenças e confissões, incluindo céticos.
Políticas públicas devem ser pautadas pelo objetivo de atender toda a sociedade sem que a opção religiosa seja levada em conta. Não cabe ao estado fazer juízo de valor ou discriminar qualquer cidadão ao formular suas políticas, principalmente numa área delicada como a saúde. O que se admite é que os cidadãos, com base na liuberdade garantida pelo texto constitucional, alicercem opções individuais nas suas convicções religiosas."

Comentário escrito por mim, em carta enviada ao JL, publicada no dia seguinte - 20/06/2007, sob o título ABORTO É PENA DE MORTE (título colocado por eles - título original é "A respeito do Editorial de 19/06/2007"):
"É decepcionante ler num jornal que tem uma circulação considerável no município de Londrina, um editorial expondo uma visão limitada a respeito de um assunto de importância vital como o aborto. Não conheço o projeto do referido vereador e não vem ao caso, já que mais grave são as palavras deste editorial. O aborto não é uma questão somente religiosa. Muito antes, é uma questão de defesa da vida e cabe ao Estado defendê-la incondicionalmente, independente de qualquer credo religioso. A insistência em tornar essa discussão unicamente religiosa é, no mínimo, capciosa, se não mal intencionada. O povo brasileiro não pode aceitar, em hipótese nenhuma, que o Estado tenha o poder de decidir quem deve viver e quem deve morrer. Aborto é pena de morte. Independente dos motivos que leva alguém a pensar nessa hipótese, o Estado deve ser tutor da vida e, através de missões educativas e orientadoras, impedir que a morte sobrevenha sobre qualquer um, principalmente sobre os inocentes fetos ainda gestantes. Corrigindo uma frase de tal editorial: "Políticas públicas devem ser pautadas pela defesa da vida, sem que a opção religiosa seja levada em conta"."