domingo, 9 de maio de 2004

Ainda sobre as cotas

Codato

Na verdade, esse meu comentário faz parte de algo que estamos discutindo aqui há alguns meses. Não sei se vc tem acompanhado pela imprensa.
Claro, vc tem razão, e muita, na análise que vc faz daz questão. Concordo em número gênero e grau. A questão do "nazismo" é uma consequência do que está acontecendo na UnB - criaram um tribunal de pureza racial - ou seja, para "pegar" os espertinhos que querem se prevalecer das cotas para adentrar na universidade, estão fotografando os candidatos e submetendo as fotos à uma comissão para que eles (o tal tribunal racial) decidamquem tem direito às cotas e quem não tem... meu Deus, que absurdo!!! E isso é nazismo. Não concorda?
Vc foi muito mais a fundo na discussão. Mas, eu, como um brasileito esfolado, sei que essa discussão que vc propõe, apesar de ser a verdadeira, não vai levar a nada, porque ninguém aqui está a fim de fazer o certo. Como você sabe, no Brasil, o objetivo é sempre tomar atitudes populistas, que rendam votos nas eleições, sem se preocupar com a verdadeira questão, resolvendo o problema de uma forma definitiva, sem rodeios, doa a quem doer...
Vc foi à fundo, e propoz a verdadeira discussão que precisamos ter. Obrigado por nos colocar nos trilhos novamente. As vezes é preciso isso, alguém de fora para nos alertar dos descaminhos em que estamos nos enveredando...
Mas, se aí é proibido falar em desocupar o Iraque, imagine aqui, falar em dificultar o acesso a universidade, elitizando-a e pedir para o povão estudar em cursos técnicos... meu Deus... impossível. Mas, a verdade é essa, e cada povo com suas dificuldades... aqui, as nossas parecem eternas... e todos com diploma na mão, seremos uma tribo, com muitos caciques e sem nenhum índio - ficando igual o MST que tem mais líderes que liderados... hehehehe

Mas, valeu a lembrança!!!

André

SOBRE A QUESTÃO DAS COTAS

André

A polarização neste tipo de discussão não dá razão para nenhum dos lados nem resolve o problema. Dizer que os negros são minoria desprivilegiada é cegueira "da braba" num Brasil de tantos desprivilegiados. Dizer que criar quotas nas universidades para negros é equivalente ao nazismo parece apenas reforçar uma retórica politica para extremizar e estereotipar o problema - não me fale nisso que te chamo de nazista! Aqui nos Estados Unidos usa-se a mesma estratégia na mídia - não fale de tirar as tropas do Iraque que te chamo de anti-patriota! Não é por aí. Isso só trunca o diálogo, e o Brasil precisa de muito.

A verdade é que os desprivilegiados no Brasil não têm côr. São todos parte de uma massa separada do mercado de consumo, mercado de trabalho, educação, proteção, enfim cidadania.

As universidades federais (caso a UFPR, UFRJ, UNB, ..) e algumas estaduais (cito a Unicamp na qual me formei) já são gratuitas como forma de descaracterização de educação elitizada - compare com outros países e imediatamente deverá cair a sua ficha - o problema não é falta de dinheiro para fazer uma faculdade.

Qual é o problema então? Vários. Primeiro que faculdade não é para todos os habitantes de um país. De que adianta diploma de Engenheiro e cargo de Pasteleiro. Segundo, o Brasil precisa de cursos técnicos que atendam a necessidades do mercado de trabalho. Citarei alguns - Auxiliar de Dentista, Auxiliar de Enfermagem, Técnico em Edificações, Técnico em Desenho, Especialista em Corretagem de Imóveis, Especialista em Seguros (saúde, vida, carro, casa), Especialista em Bolsa de Valores ... e tantos outros. Onde se encontram estes cursos? Todos dão trabalho com dignidade e salário decentes.

O negro foi marginalizado? Foi. Desde o começo. A famosa "Lei Áurea" foi tão desastroza como o "Plano Collor" - uma canetada sem solução para as consequências. Mas os brancos, cafuzos, mulatos, vermelhos, amarelos, disputam o mesmo espaço em baixo da ponte. Errado achar que uma vaga na faculdade vai mudar sua condição de vida. Típico trauma que precisa mais de terapia do que quota na universidade - dignidade, respeito e cidadania não se adquire com um cartucho (diploma). Pobre do povo que acha que só poderá ser respeitado e ter uma vida descente se tiver um diploma. Pobre do povo que criou e vive deste mito.

Em tempo. A ser atacado, antes de mais nada: concentração de renda e juros extorsivos!

Codato.