domingo, 9 de maio de 2004

SOBRE A QUESTÃO DAS COTAS

André

A polarização neste tipo de discussão não dá razão para nenhum dos lados nem resolve o problema. Dizer que os negros são minoria desprivilegiada é cegueira "da braba" num Brasil de tantos desprivilegiados. Dizer que criar quotas nas universidades para negros é equivalente ao nazismo parece apenas reforçar uma retórica politica para extremizar e estereotipar o problema - não me fale nisso que te chamo de nazista! Aqui nos Estados Unidos usa-se a mesma estratégia na mídia - não fale de tirar as tropas do Iraque que te chamo de anti-patriota! Não é por aí. Isso só trunca o diálogo, e o Brasil precisa de muito.

A verdade é que os desprivilegiados no Brasil não têm côr. São todos parte de uma massa separada do mercado de consumo, mercado de trabalho, educação, proteção, enfim cidadania.

As universidades federais (caso a UFPR, UFRJ, UNB, ..) e algumas estaduais (cito a Unicamp na qual me formei) já são gratuitas como forma de descaracterização de educação elitizada - compare com outros países e imediatamente deverá cair a sua ficha - o problema não é falta de dinheiro para fazer uma faculdade.

Qual é o problema então? Vários. Primeiro que faculdade não é para todos os habitantes de um país. De que adianta diploma de Engenheiro e cargo de Pasteleiro. Segundo, o Brasil precisa de cursos técnicos que atendam a necessidades do mercado de trabalho. Citarei alguns - Auxiliar de Dentista, Auxiliar de Enfermagem, Técnico em Edificações, Técnico em Desenho, Especialista em Corretagem de Imóveis, Especialista em Seguros (saúde, vida, carro, casa), Especialista em Bolsa de Valores ... e tantos outros. Onde se encontram estes cursos? Todos dão trabalho com dignidade e salário decentes.

O negro foi marginalizado? Foi. Desde o começo. A famosa "Lei Áurea" foi tão desastroza como o "Plano Collor" - uma canetada sem solução para as consequências. Mas os brancos, cafuzos, mulatos, vermelhos, amarelos, disputam o mesmo espaço em baixo da ponte. Errado achar que uma vaga na faculdade vai mudar sua condição de vida. Típico trauma que precisa mais de terapia do que quota na universidade - dignidade, respeito e cidadania não se adquire com um cartucho (diploma). Pobre do povo que acha que só poderá ser respeitado e ter uma vida descente se tiver um diploma. Pobre do povo que criou e vive deste mito.

Em tempo. A ser atacado, antes de mais nada: concentração de renda e juros extorsivos!

Codato.

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