quarta-feira, 28 de abril de 2004

Sobre as Cotas

''Porque gado a gente marca, tange, ferra, engorda e mata. Mas com gente é diferente''. Não dá para simplesmente passar os olhos sobre o texto do veterinário André Eduardo Pullin Lazzarini, na Folha do último domingo, e pensar: ''não é comigo'' ou ''o cara está certo''. Tá certo não seu doutor, tá certo não. Sou professor de História da rede particular em Londrina e aproveitei a polêmica das cotas para debates com minhas turmas. Os jovens, em que pese um certo desconhecimento da matéria, conhecem um pouco da história, e um dos fatores para que este debate venha à tona é justamente devido ao nosso passado (mandonismo, machismo, escravismo) e o nosso presente (estado de democracia, de debate de idéias). Pois bem, seu doutor, quantos doutores o senhor conhece de pela negra? Ou além, quantos vindos da escola pública? Jogar o debate para quando a situação melhorar é escamotear a urgência de providências, ou melhor, é acreditar nas promessas dos governantes, como a velhinha de Taubaté. Ou ainda, acreditar que um dia a educação vai melhorar, se Deus quiser. A discriminação positiva seria uma resposta à discriminação seletiva de mais de três séculos de nossa história, é pensar qual tipo de nação queremos construir. Em que pese o descabido termo de raça ao referir-se ao ser humano, relembro Vandré, com gente é diferente.
MÁRCIO LUIZ CARRERI (professor) - Londrina
FOLHA DE LONDRINA - 28/04/2004 - PAG 02
http://www.bonde.com.br/folha/folhad.php?oper=materia&id=5722&data_AAAAMMDD=20040428

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