Há trinta anos atrás, vivíamos sob um estado ditador. A democracia ainda era um sonho. Assim como a ditadura estava presente em toda a vida, tudo era ditado, tudo era policiado, tudo era controlado. Não podíamos falar o que quiséssemos, não podíamos atender as nossas vontades; tudo era dirigido, tudo era mandado e obedecido. Os pais tinham a força opressora e a palavra final. Aos filhos, restavam-lhes obedecer. Nas escolas, a mão de ferro dominava: os professores com seus controles, suas ameaças e coagindo os pupilos indefesos. Não conhecíamos ainda o vídeo cassete, mal assistíamos programas ao vivo – a maioria era vídeo tape, a censura escolhia aquilo que podíamos ou não ver. As músicas soavam do toca discos ou dos radinhos a pilha. Quando a saudade batia mandávamos uma carta ou aguardávamos as linhas disponíveis do interurbano. Computador, internet, correio eletrônico... nem pensar!
Mas, nada disso perdurou. Ou quase nada.
A tecnologia modernizou tudo. Ou quase tudo. A democracia chegou, trouxe a liberdade de expressão, a censura caiu, as famílias ficaram mais abertas, as opiniões afloraram e o diálogo triunfou. A televisão modernizou, veio o VCR, e em seguida o DVD que já está indo embora; os radinhos à pilha deram espaço aos aparelhos 3 em 1 e foram miniaturizados para mp3 e ipods; os computadores vieram para ficar, trazendo toda uma vida digital a tona; a internet com seus correios eletrônicos instantâneos diminuíram as distâncias e aproximaram as pessoas.
Mas nem tudo mudou.
Constatar, vinte e cinco anos depois, que o ensino continua medíocre é uma decepção muito grande. O ensino primário, ginasial e colegial que tornaram-se infantil, fundamental e médio até que apresentaram modificações significativas, incorporando conhecimentos e tecnologias, alterando o modo como se ensina as crianças e os jovens. Pelo menos, nas escolas particulares, aquele método tradicional já caiu há anos, dando espaço para a modernidade e novas formas que acompanham o mundo como um todo.
Pena que a universidade não acompanhou. Medíocre como era, mas antes fazia parte de um contexto e assim, por isso mesmo, tinha sua razão de ser assim. Enquanto trocamos e-mails, pesquisamos pela internet, lemos artigos atualíssimos publicados segundos antes de termos conhecimento, assistimos aulas de professores incompetentes, atrasados, mais chegados aos costumes ditatoriais do passado do que a uma possibilidade – ainda que remota – de modenizar-se.
Aqueles professores que utilizam a lista de chamada para manter quorum em suas classes; outros que ameaçam os alunos com o tradicional “isso vai cair na prova”, ou pior: “vocês vão ver só o resultados nas suas notas”... provocando náuseas em quem tem que aturar esses retrógrados, incompetentes e incapazes, que só restam-lhes a ameaça, a coação e a repressão como arma de auto afirmar-se na sua incompetência medíocre.
Não sei qual a saída desse sistema apodrecido. Mas é muito frustrante querer adquirir novos horizontes, novos saberes e procurar a universidade para tal e descobrir que, depois de um quarto de século, o sistema piorou, apodreceu e está largado no campo, para os vermes devorarem até o caroço.
Resta a curiosidade e ser autodidata para procurar o saber em fontes mais modernas. Esquecer a universidade e deixá-la para trás, porque desta que existe, nada mais resta a fazer. Não adianta mudarem os currículos, criarem disciplinas, procurarem novos cursos com nomes atuais, se não mudarem os mestres, aqueles responsáveis pela transmissão dos conhecimentos, mas mestres verdadeiros que o sejam por amor a camisa e não porque almejam sua aposentadoria; não incrementarem com novos métodos de ensino, que tornem o aprender um prazer e não uma forma de coagir e reprimir o aluno; procurar novas tecnologias, investir de verdade no ensino e no saber.
O absurdo dos absurdos é visto na universidade: o Brasil realmente é a terra da pirataria: um xerox copiando títulos inteiros, abertamente, para quem quiser ver e comprar... e os cientistas e doutores que forem formados por esta mesma instituição, chorarão seus direitos autorais nas máquinas xerográficas num ciclo estéril e injusto. Como ensinar ética quando na porta está o arrombo da própria? Como ensinar advogados a combaterem os crimes se a própria instituição os estimula? Como estimular os pensadores quando os próprios mestres corrompem com seu ganha-pão? Como ensinar sociologia, quando a instituição é desumana para com os sociólogos? Como ensinar responsabilidade social quando a irresponsabilidade habita em todos os setores?
É claro e óbvio que existem exceções. E honrosas exceções, pois são os valentes que impedem o apodrecimento total. Meu sincero reconhecimento à esses heróis. Pena que sejam poucos. Valentes e perseverantes, mas ainda poucos... idealistas e persistentes, mas ainda assim... poucos! A luta é eterna... como a batalha do cristão: sabemos que aqui não triunfaremos, pois nosso triunfo está além desse mundo. Ainda assim, não podemos desanimar e nunca desistir de nossas batalhas diárias...
Mais triste ainda é ver que loucos e insanos, os pobres estudantes do Ensino Médio entornam aos montes, descabelando-se num vestibular injusto para, como prêmio de conquistá-lo, receberem um ensino deficiente, uma estrutura gasta e defasada, um sistema precário e mentalidades perdidas no tempo.
Eu, que queria ver a luz dos conhecimentos, novos caminhos e novas esperanças, dentro da universidade, percebo que estou perdendo meu precioso tempo, repetindo uma história que já vivi na minha vida e achei que nunca mais ninguém teria que vivê-la. Pena dos nossos jovens, dos meus filhos que terão que enfrentá-la por pura falta de opção. Quanta mediocridade. Quanto desperdício de inteligência, de oportunidades, de progresso, de vida, de saber e de esperanças...
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