O erro mais comum e observado dentre a maioria daqueles que defendem o aborto é a defesa do direito à propriedade do seu corpo, tornando o feto “parte” do seu corpo.
Um braço é parte de um corpo, portanto, um braço é propriedade deste corpo. Assim, se o proprietário decide descartar seu braço, lhe será permitido (embora possa não ser aceito ou não compreendido seus motivos), mas nenhuma culpa lhe é imputada, já que ele é dono e pode fazer e desfazer daquilo que lhe pertence. O braço, por ser parte do todo, não é e nunca será capaz de permanecer vivo ou manter-se vivo fora do seu corpo. Ele pode permanecer utilizável, desde que adequadamente conservado; para que seus tecidos possam ser reutilizados ou reaproveitados. Mas um braço não tem autonomia e nem nunca conseguirá autonomia de sobrevivência, por mais tempo que permaneça junto do seu corpo de origem antes de ser amputado.
Se o indivíduo, proprietário de seu corpo e sua vida, resolve dar cabo da mesma, é seu direito. É livre para fazer e desfazer daquilo que é seu, é de sua propriedade. Não afetando fisicamente seus pares e semelhantes, o direito lhe é conferido em sua totalidade. As conseqüências deste fato afetarão tão e somente o próprio indivíduo. É claro que, havendo envolvimento emocional outros sofrerão. Mas não é disso que tratamos aqui.
Um feto, ao contrário, não lhe pertence. É independente. É um ser vivo que, embora não tenha autonomia durante certo tempo, terá em breve. Desde o momento da união dos gametas, surgiu um ser que conquista uma crescente autonomia a cada dia que passa, até que se tornará independente daqueles que lhe deram a vida. Se assim o é, não podemos considerá-lo uma mera parte de um todo, um apêndice que pode ser disposto ao sabor dos desejos daquele que se acha seu dono – e que, na verdade, apenas é um hospedeiro para que esse novo ser conquiste sua autonomia. Neste momento, quando é apenas um hóspede do corpo em que foi gerado, não pode ser tratado como um simples pedaço de carne que incomoda e que pode ser dispensado. "Estar hóspede" não lhe confere a obrigação de "ser prorpiedade" de alguém.
Assim dizendo, parece que a frieza e a indiferença habitam nossos raciocínios e pensamentos. Mas o raciocínio tendencioso e parcial da “propriedade” nos empurra para essa ilha, essa idéia de “ser dono” só porque está dentro do seu corpo. É enganoso e capcioso levar as pessoas a pensar desta forma. Há que ser cuidadoso e analisar cada idéia que surge a respeito do assunto, inclusive estar atento aos interesses escusos dessas formas de pensar. “Os filhos vem por meio de vós..., mas não são propriedade vossa”(Kahlil Gibran).
domingo, 22 de março de 2009
Refletindo sobre o direito ao aborto
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