(Folha de Londrina, 17/08/2008 – Caderno Especial, página 01).
O tom poético da reportagem, intencional ou não, esconde atrás dos versos, das flores e da beleza puritana um execrável atraso tecnológico, um interesseiro viés imperialista e uma maldosa vontade de manter tudo como está. Por quê?
Oras, não é difícil perceber que a vida no campo, romanticamente descrita, direciona os leitores para o saudosismo rural, aquele dos “bons tempos”, da vida sem controles rígidos, da paz entre os vizinhos, do leiteiro batendo à sua porta e do queijo colonial envolvendo a goiabada caseira.
E não há nada de mal nisso, não fossem a inversão das prioridades levadas à disposição desses munícipes.
Frases de efeito são como o remédio que esconde a dor: “... um dos estados mais ricos do país”; “... braço forte do povo que faz a terra produzir”; e vai por aí afora. Eleva-se o moral para em seguida mostrar-lhe, ainda que ligeira e disfarçadamente, a verdade: “Mas a riqueza não beneficia a todos”.
Viver no campo, em pleno século XXI, como se vivia no século XIX ou no anterior, é notável atraso. Intencional ou não, é atraso. A modernidade trouxe benefícios incontestáveis em nome do bem estar, da saúde e do conforto para o homem. E essa modernidade deve ser disponibilizada igualmente para todas as cidades e não restringir-se aos pólos e grandes centros. É certo que males vieram a reboque, assim como o efeito colateral do remédio que cura: no mínimo o sabor amargo.
Mas o que é inadmissível é o tom conformista proposto pela reportagem, adoçado no tom poético que remete a vida no campo; lê-se claramente nas entrelinhas: sem as horas que o controle, sem a velocidade de suas necessidades, sem os atropelos da modernidade. Mas também se lê nos últimos parágrafos a verdade escrita ao avesso: o progresso conquistado à custa de suas riquezas trouxe para vocês, moradores e trabalhadores braçais dos pequenos municípios paranaenses, o maior cuidado dos governos federal e estadual que, na sua piedade satânica, proporcionaram urgentemente as melhoras que eles acharam que deveriam ser levados aos mais perdidos rincões do estado: o melhoramento genético para seus gados, incremento na diversificação da produção/produtividade; qualificação dos trabalhadores; etc. Tudo em prol da preocupação do Estado com sua população. E frisado, muito bem frisado no final da reportagem: “... devolvendo a dignidade a estas populações que, aos poucos, vão recuperando a auto-estima e a esperança em dias melhores.”.
Um Estado que olha para seu povo, pede seu voto, mas não o retribui?
Um Estado que, em pleno século XXI, preocupa-se em manter seu povo na produção primária, predominantemente agropastoril, para sermos campeões na agro-pecuária, exportadores de matéria-prima?
Um Estado que, apesar de ser eleito “pelo povo e para o povo”, não o representa e não proporciona o progresso positivo para seu povo?
Um Estado que deveria olhar para seu povo com olhos de pai que ama seu filho: preocupando-se com seu desenvolvimento, com seu crescimento e aí sim, resgatando-lhe sua auto-estima e sua dignidade.
Um Estado que prefere melhorar o bem-estar dos gados, ao invés de seu povo.
Um Estado que quer manter seu povo no romantismo rural, pois assim não será risco para seu poder.
Mas também:
Um Estado iludido pela soberba e vendido ao poder econômico; um Estado que serve somente ao capital e a ganância desenfreada de seus tentáculos, pregando o moralismo rural para a população; o sonho dourado da vida tranqüila para poder surrupiar-nos o verdadeiro sonho: uma vida verdadeiramente digna, com os confortos da modernidade associado à vida tranqüila das pequenas cidades.
O tom poético da reportagem, intencional ou não, esconde atrás dos versos, das flores e da beleza puritana um execrável atraso tecnológico, um interesseiro viés imperialista e uma maldosa vontade de manter tudo como está. Por quê?
Oras, não é difícil perceber que a vida no campo, romanticamente descrita, direciona os leitores para o saudosismo rural, aquele dos “bons tempos”, da vida sem controles rígidos, da paz entre os vizinhos, do leiteiro batendo à sua porta e do queijo colonial envolvendo a goiabada caseira.
E não há nada de mal nisso, não fossem a inversão das prioridades levadas à disposição desses munícipes.
Frases de efeito são como o remédio que esconde a dor: “... um dos estados mais ricos do país”; “... braço forte do povo que faz a terra produzir”; e vai por aí afora. Eleva-se o moral para em seguida mostrar-lhe, ainda que ligeira e disfarçadamente, a verdade: “Mas a riqueza não beneficia a todos”.
Viver no campo, em pleno século XXI, como se vivia no século XIX ou no anterior, é notável atraso. Intencional ou não, é atraso. A modernidade trouxe benefícios incontestáveis em nome do bem estar, da saúde e do conforto para o homem. E essa modernidade deve ser disponibilizada igualmente para todas as cidades e não restringir-se aos pólos e grandes centros. É certo que males vieram a reboque, assim como o efeito colateral do remédio que cura: no mínimo o sabor amargo.
Mas o que é inadmissível é o tom conformista proposto pela reportagem, adoçado no tom poético que remete a vida no campo; lê-se claramente nas entrelinhas: sem as horas que o controle, sem a velocidade de suas necessidades, sem os atropelos da modernidade. Mas também se lê nos últimos parágrafos a verdade escrita ao avesso: o progresso conquistado à custa de suas riquezas trouxe para vocês, moradores e trabalhadores braçais dos pequenos municípios paranaenses, o maior cuidado dos governos federal e estadual que, na sua piedade satânica, proporcionaram urgentemente as melhoras que eles acharam que deveriam ser levados aos mais perdidos rincões do estado: o melhoramento genético para seus gados, incremento na diversificação da produção/produtividade; qualificação dos trabalhadores; etc. Tudo em prol da preocupação do Estado com sua população. E frisado, muito bem frisado no final da reportagem: “... devolvendo a dignidade a estas populações que, aos poucos, vão recuperando a auto-estima e a esperança em dias melhores.”.
Um Estado que se preocupa, antes de qualquer coisa, com a produção, a produtividade, a capacitação dos trabalhadores, melhoramento genético para o gado, etc, E NÃO PROPORCIONA SAÚDE, ESCOLAS, ESGOTOS E TRATAMENTO DE ÁGUA, TRANSPORTE, etc. Esses benefícios deveriam ser as prioridades, mas não o são. E o povo, bovinamente, assim o aceita. Exatamente porque há muitos a serviço desta mão invisível, dourando-lhe a pílula e distribuindo à população.Oras bolas... é só o que consigo dizer:
ORAS BOLAS!!!
Um Estado que olha para seu povo, pede seu voto, mas não o retribui?
Um Estado que, em pleno século XXI, preocupa-se em manter seu povo na produção primária, predominantemente agropastoril, para sermos campeões na agro-pecuária, exportadores de matéria-prima?
Um Estado que, apesar de ser eleito “pelo povo e para o povo”, não o representa e não proporciona o progresso positivo para seu povo?
Um Estado que deveria olhar para seu povo com olhos de pai que ama seu filho: preocupando-se com seu desenvolvimento, com seu crescimento e aí sim, resgatando-lhe sua auto-estima e sua dignidade.
Um Estado que prefere melhorar o bem-estar dos gados, ao invés de seu povo.
Um Estado que quer manter seu povo no romantismo rural, pois assim não será risco para seu poder.
Mas também:
Um Estado iludido pela soberba e vendido ao poder econômico; um Estado que serve somente ao capital e a ganância desenfreada de seus tentáculos, pregando o moralismo rural para a população; o sonho dourado da vida tranqüila para poder surrupiar-nos o verdadeiro sonho: uma vida verdadeiramente digna, com os confortos da modernidade associado à vida tranqüila das pequenas cidades.
Porque?E reportagens poéticas, como estas, não beneficiam; ao contrário, traem os anseios populares, adocicando-lhes com um placebo que nunca vai curar a doença; traem os sonhos humanamente dignos, trocando por uma “... esperança em dias melhores.”.
Ganância, ganância, ganância. Poder, poder, poder. Custe o que custar.
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